O racha dentro do PSL — partido do presidente Jair Bolsonaro — ganhou força e saiu das sombras nas últimas semanas. Frases polêmicas, operação da Polícia Federal (PF) contra o presidente do partido, Luciano Bivar, troca de líderes no Congresso e nos comandos regionais da sigla incendiaram a disputa dentro da legenda, deixando mais claro o “grupo de Bolsonaro” e o “grupo de Bivar”.
Crise, confusões e áudios comprometedores vazados não são inéditos na política brasileira e ganharam destaque em Brasília desde a redemocratização. Abaixo, veja escândalos em governos passados.
Ministro comprado - Mandato de Fernando Collor (1992)
Em 1992, durante o mandato de Fernando Collor, o então ministro do Trabalho e Previdência, Antonio Rogério Magri foi gravado por um diretor do INSS admitindo ter recebido propina de US$ 30 mil para facilitar a liberação de recursos do FGTS para uma empresa fazer uma obra no Acre.“O cara veio aqui e me deu US$ 30 mil. Me deu. Caiu do céééu!”, dizia no grampo o ministro, que acabou demitido.
Venda de votos para reeleição - 1º mandato do governo FHC (1997)
Em 1997, o governo de Fernando Henrique Cardoso conseguiu aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que instituiu a reeleição do presidente de governadores e de prefeitos. Na época, grampos revelaram a suspeita de que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre, teriam recebido R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Ambos foram expulsos do partido e renunciaram. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido (PMDB-AC), Osmir Lima (PFL-AC) e Zila Bezerra (PFL-AC), foram absolvidos pelo plenário da Câmara.
O escândalo dos aloprados - 1º mandato de Lula (2006)
Em 2006, às vésperas do primeiro turno das eleições, a Polícia Federal prendeu em um hotel de São Paulo petistas carregando uma mala com R$ 1,7 milhão. O dinheiro seria usado para a compra de documentos falsos que implicariam o tucano José Serra. Um dos presos disse, em depoimento à Polícia Federal, que foi contratado pelo PT. Afirmou, ainda, que seu contato no partido era Freud Godoy, então assessor especial de Lula. O ex-presidente o exonerou do cargo e chamou os petistas implicados no caso de "bando de aloprados", definição célebre até hoje vinculada ao escândalo.
Caso Bessias - 2º mandato de Dilma Rousseff
No início de 2016, Dilma Rousseff cambaleava na Presidência da República, às vésperas do impeachment que colocaria seu vice, Michel Temer, no poder. Em 16 de março daquele ano, vazou áudio onde a então presidente afirmava que enviaria o termo de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil. A indicação de Lula para o cargo era vista como uma tentativa de blindar o petista contra a Lava-Jato. No áudio, Dilma diz que vai entregar o documento a Lula por meio de “Bessias”, que seria o assessor Jorge Messias, que trabalhava na parte jurídica da Casa Civil.
O vazamento ocorreu um dia antes de Lula assinar documento de posse no cargo. Barrado por decisões judiciais, o ex-presidente não chegou a comandar a Casa Civil.
Áudios vazados - mandato de Michel Temer (2016)
Em maio de 2016, uma semana e meia após ser nomeado ministro do Planejamento no governo de Michel Temer, Romero Jucá (PMDB) anunciou sua saída do cargo, no mesmo dia em que vazou uma conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Na gravação, Jucá sugere a Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava-Jato, que investiga ambos.
Meses depois, o vazamento de outro áudio complicaria ainda mais o governo. Dessa vez, Temer foi flagrado em conversa com Joesley Batista — um dos donos da JBS, supostamente comprando o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha. A conversa impulsionou denúncia contra Temer em meio ao mandato, o que acabou minando a agenda do governo, que teve de concentrar os esforços para barrar as acusações.
Na última quarta-feira (16), o ex-presidente foi absolvido da acusação. Na decisão, juiz Marcus Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara da Justiça Federal em Brasília, sustentou que a Procuradoria-Geral da República (PGR), autora da denúncia inicial, editou trechos de um áudio apresentado como prova e que o conteúdo não configura ilícito penal "nem em tese".