A citação do presidente Jair Bolsonaro na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco deflagrou uma batalha nas redes sociais. Enquanto os críticos do presidente cobram explicações sobre uma eventual relação de Bolsonaro com os acusados do crime, seus simpatizantes exigem apuração da denúncia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria participação na morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
O suposto vínculo de Lula com o crime foi noticiado semana passada pela revista Veja. Em reportagem de capa, a publicação revelou trechos de um depoimento do empresário Marcos Valério ao Ministério Público de São Paulo no qual o operador do mensalão teria implicado o petista na morte de Daniel.
Condenado a mais de 50 anos de prisão no julgamento do mensalão, Valério cumpre a pena em regime semiaberto. Desde a condenação, contudo, ele afirma que teria revelações a fazer sobre o rumoroso assassinato do prefeito, em 2002. Agora, 17 anos após o crime, ele disse que Lula e outros petistas graduados estavam sendo chantageados por um empresário de Santo André.
Valério disse ter ouvido desse empresário que o próprio Lula teria sido o mandante do crime. Segundo Veja, o depoimento do operador do mensalão foi gravado em vídeo, nas dependências do Departamento de Investigação de Homicídios de Minas Gerais. A gravidade do relato teria levado o promotor Roberto Wider Filho a encaminhar o interrogatório ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Valério diz ter sido chamado a uma reunião no Palácio do Planalto com Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete de Lula, em 2003. Na conversa, Carvalho teria dito que o empresário Ronan Maria Pinto, cúmplice em esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André, ameaçava envolver a cúpula do governo no assassinato de Daniel.
— Marcos, nós estamos com um problema. O Ronan está nos chantageando, a mim, ao presidente Lula e ao ministro José Dirceu, e preciso que você resolva — teria dito Carvalho, de acordo com a revista.
O operador do mensalão teria conversado ainda com Dirceu sobre o caso, ouvindo como resposta “vá e resolva”. A partir daí, numa sequência de contatos com petistas graúdos, Valério teria se reunido com Ronan em um hotel em São Paulo. Mais tarde, um empréstimo de R$ 12 milhões feito pelo banco Schain a José Carlos Bumlai, amigo de Lula, teria sido construído como fachada para o pagamento de R$ 6 milhões ao chantagista. O restante teria sido entregue a Jacó Bittar, também amigo pessoal de Lula e pai de Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia.
As novas revelações sobre a morte de Celso Daniel estariam ocorrendo em um inquérito sigiloso. O caso, porém, sempre foi tratado como crime comum pela Polícia Civil de São Paulo.