Editado a partir de uma série documental da BBC Earth, o vídeo no qual um leão (Jair Bolsonaro) aparece cercado por várias hienas (PSL, STF, OAB, etc) até ser resgatado por outro felino (o conservador patriota) representa um presidente "poderoso" atacado por adversários "oportunistas". Assim, especialistas analisam a metáfora zoológica que foi apagada do Twitter do presidente horas depois.
Em seu site, a BBC menciona que, embora possa parecer chocante, não é inédito que um grupo de hienas acometa leões. Tida como a vilã das pastagens africanas, a espécie costuma atuar em bando para se proteger – e, também, atacar.
As hienas, integrantes da família "hyaenidae", são chamadas de oportunistas por se alimentarem das carniças abandonadas por outros animais. Essa relação ecológica é conhecida como comensalismo, ensina o professor de biologia do Unificado Augusto Braul:
– O leão, quando abate as presas, come somente a parte nobre da carne. Já a carcaça do animal é aproveitada pelas hienas. Por isso, são consideradas "sujas".
Segundo as biólogas Márcia Jardim e Tatiane Trigo, do setor de mamíferos do Museu de Ciências Naturais, esses animais que se alimentam de espécies mortas levam o nome de necrófagos. "Como utilizam o mesmo ambiente e as mesmas presas, leões e hienas estão naturalmente em competição. Essas interações são comuns e importantes na manutenção da estrutura de espécies dentro de uma comunidade biológica", descreveram as biólogas, em nota enviada à GaúchaZH.
Do mundo selvagem para o alegórico, o psicanalista Robson de Freitas Pereira, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), analisa o tuíte como uma propaganda política que se usa de símbolos conhecidos do imaginário social.
– Passa a ideia de que o leão, o rei dos animais, forte e poderoso, não pode fazer frente às ameaças quando está sozinho contra um bando. Por isso, apela para a ajuda que tem de receber – avalia Pereira. – Tem o efeito de buscar um reforço da imagem de luta contra antigos e novos inimigos. Ao se utilizar de uma metáfora básica e direta, conversa com os convertidos, reforçando a imagem de que precisa de entusiasmo e coesão – acrescenta o psicanalista.
O vídeo original foi capturado por uma equipe da BBC que colhia imagens para a série "Dinastias". O produtor, Simon Blekeney, relatou que, na ocasião, avistou o macho em "sérios problemas".
– Inicialmente, ele tentou mostrar o quão dominante era perseguindo hienas, mas, quando superou sua bravata, estava cercado por 20 ou 30 delas e não conseguia mais escapar. Cada vez que atacava uma, outras o atacavam por trás. Ele estava preso em uma situação de vida e morte – resumiu Blekeney à emissora.