Executivos das empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e OAS viraram réus sob acusação de crimes de corrupção na construção das linhas 2-verde, 5-lilás e 6-laranja do Metrô de São Paulo, em ação apresentada pela força-tarefa da Lava-Jato paulista.
A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra os executivos, aceita nesta sexta (9) pela juíza federal substituta Flavia Serizawa e Silva, usou elementos da delação premiada de Sérgio Brasil, que foi diretor do Metrô na gestão José Serra (PSDB) e assessor de PPP (parcerias público-privadas) na Secretaria de Planejamento do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Um dos denunciados é o próprio Brasil, que deve obter benefícios da Justiça por ser um delator. No total, são 14 réus, entre eles outros delatores, como os executivos da Odebrecht.
Segundo os procuradores que compõem a força-tarefa da Lava-Jato de São Paulo, Brasil admitiu ter recebido pagamento das cinco construtoras para favorecê-las em concorrências do Metrô.
Além dele, o Ministério Público Federal apresentou ação contra integrantes ou ex-integrantes da Odebrecht (Fabio Andreani Gandolfo, Benedicto da Silva Júnior, Celso da Fonseca Rodrigues, Luiz Antonio Bueno Júnior, Arnaldo Cumplido de Souza e Carlos Armando Guedes Paschoal), Andrade Gutierrez (Flávio David Barra, Dario Rodrigues Leite Neto e Anuar Benedito Caram), Queiroz Galvão (Mário Bianchini Júnior e Carlos Alberto Mendes dos Santos) e OAS (José Alexis Beghini Carvalho e Carlos Henrique Barbosa Lemos).
Na denúncia, os procuradores dizem que há suspeitas de corrupção na ampliação das linhas 2 e 5 do Metrô e também na montagem da parceria público-privada que resultou no projeto da linha 6.
Os crimes teriam sido cometidos entre 2004 e 2014, e envolveria, além das gestões Serra e Alckmin, as de Alberto Goldman (PSDB) e Claudio Lembo (ex-DEM, hoje no PSD). Na linha 2-verde, Brasil afirmou ter trabalhado para manter os contratos, celebrados em 1990, por meio de 29 aditivos. Ele teria recebido R$ 2 milhões das empresas.
Já a linha 5-lilás, ele disse ter trabalhado para direcionar a licitação do trecho entre as estações Largo 13 e Chácara Klabin, de modo a favorecer as empreiteiras. Antes, Brasil também havia sido citado por delatores da Odebrecht, que diziam ter feito repasses a agentes públicos para viabilizar contratos e até liberações de vias públicas para a execução das obras.
A delação da empreiteira também serviu de subsídio para a denúncia. Separadamente, a força-tarefa da Lava-Jato de São Paulo tem investigado pagamentos feitos à Camargo Corrêa por intermédio de doleiros.
À Justiça Federal os procuradores informaram que continuam a investigar a participação de outras pessoas nos episódios sob suspeita de corrupção. Também apuram cartel das empresas.
Contrapontos
Procurada, a Andrade Gutierrez informou em nota que "apoia toda iniciativa de combate à corrupção, e que visa a esclarecer fatos ocorridos no passado".
"A companhia assumiu esse compromisso público em um manifesto veiculado nos principais jornais do país e segue colaborando com as investigações em curso dentro dos acordos de leniência firmados com o Ministério Público Federal (MPF), com a Controladoria Geral da União (CGU), com a Advocacia Geral da União (AGU) e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
"Cabe ressaltar que a empresa tem total interesse em esclarecer os fatos que abrangem os processos abertos agora pelo Ministério Público Federal de São Paulo em relação às obras do metrô e já se coloca à disposição das autoridades competentes para uma colaboração ampla e irrestrita das informações de que tem conhecimento."
A Queiroz Galvão informou que não irá comentar a denúncia.
A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa dos demais acusados.