BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Na tarde de sexta-feira (12), logo depois que a Câmara começou a votar os destaques da reforma da Previdência, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enviou uma mensagem para Alexandre Frota (PSL-SP) perguntando quantos correligionários ele conseguiria manter em Brasília até às 22h daquele dia.
O parlamentar respondeu de pronto: 52 dos 53 aptos a votar.
Naquele momento, o temor de Maia e da equipe econômica do governo era o de que, após a apreciação da proposta do PDT para garantir regras de aposentadoria mais brandas aos professores, os parlamentares deixassem a Câmara sem concluir a análise em primeiro turno da reforma.
Frota já havia mapeado o número de deputados do PSL no plenário e acionado os sete que não estavam na Casa. Um deles, Léo Motta (MG), estava com a mulher no hospital.
Por mensagem de áudio no WhatsApp, Frota pediu que o colega desse um pulo na Câmara "só para votar". Motta respondeu, imediatamente, dizendo que estava a caminho.
Os articuladores da Previdência precisavam garantir 308 deputados favoráveis à proposta nas votações dos destaques para evitar uma desidratação ainda maior da reforma.
A preocupação era de que as emendas da oposição pudessem desfigurar a economia desejada pela equipe do ministro Paulo Guedes (Economia). Por isso, a batalha para manter 60% da Câmara em Brasília.
Os destaques mais temidos pelos auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (PSL) eram de autoria do PT. Juntos, eles poderiam ter impacto de cerca de R$ 500 bilhões na economia prevista pela reforma -os pontos, no entanto, foram derrubados.
"De tudo que ouvi aqui, acho que passei na prova", comenta Frota. "Já fiz tudo na vida: fumei, cheirei, viajei o mundo. Agora, estou focado na Câmara."
Ele brinca que, após a maratona da Previdência, já foi "batizado" para fazer parte do que chama de "tropa de choque" do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ingressando no grupo capitaneado pelos líderes da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e do PP, Arthur Lira (AL).
Encerrada a primeira etapa de análise da reforma da Previdência na Câmara, Frota diz, sem titubear, que a proposta só foi aprovada e avançou no Congresso graças a Maia.
"Essa reforma da Previdência, da maneira como está sendo feita e construída, com toda certeza não é do Jair Bolsonaro (PSL). É a reforma da Previdência do Rodrigo Maia", disse à Folha de S.Paulo na tarde de sexta.
"Sempre comparo com o futebol: já que o centroavante, que é o Bolsonaro, não fez o gol, ele [Maia] veio da defesa e fez. O importante é a bola entrar."
O texto-base foi aprovado na noite de quarta (10) por 379 votos a 131. Na véspera da votação, Frota já havia dito à Folha de S.Paulo que foi Maia quem buscou os votos a favor da reforma, e não o governo.
"O governo não buscou esse voto. Quem buscou foi o Rodrigo. Fomos nós que ficamos aqui, passamos noites e noites trabalhando voto por voto", afirmou. "Acompanhei diariamente a preparação, a montagem, a maneira como ele se portou diante das bancadas, assumindo o papel que era do governo."
Frota disse ter passado toda a quarta tentando virar votos a favor do projeto, assumindo uma posição que não lhe foi entregue oficialmente pelo Palácio do Planalto. "Não sou articulador do governo. O governo tinha que estar aqui dentro com a tropa dele montada. Isso foi desgastante", disse.
Diante da vitória com 71 votos a mais do que o necessário, às 3h25 da madrugada de quinta (11), o ministro da Economia, Paulo Guedes, enviou uma mensagem para o deputado agradecendo seu empenho.
"Muito obrigado pelo seu belo trabalho de defesa da Nova Previdência, amigo Frota."
Frota viu a mensagem às 4h30, quando levantou da cama para fazer uma caminhada de 40 minutos. Pouco antes das 7h, ele já estava na Casa de Maia com o correligionário e presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar.
"A equipe do Guedes me pediu para fazer o meio campo entre ele e o Rodrigo. Fui lá e fiz", disse.
A relação entre o presidente da Câmara e o ministro da Economia desandou depois da série de críticas de Guedes aos parlamentares.
Desde o dia 20 de fevereiro, quando entrou para a linha de frente da articulação da Previdência na comissão especial da Câmara, Frota passou a falar diariamente com Guedes. Os telefonemas aconteciam entre as 6h e as 7h30.
Além do trabalho de articulador, Frota disse também ter incorporado o papel do que chama de "coordenador de momentos de crise".
"Tiveram momentos em que eu estava em casa com a minha filha de 4 meses e o Paulo Guedes ligando, de um lado, e o Rodrigo, de outro", contou.
De acordo com o deputado, um dos episódios mais críticos até aqui foi o anúncio de retirada da capitalização do texto.
"O grande problema para o Paulo foi ter tirado a capitalização, que era o grande coração [da reforma para ele]. Quando tiraram a capitalização, ele explodiu", disse Frota.
Nesse período, o deputado neófito também adquiriu o hábito de mandar, todos os dias, mensagens motivacionais no grupo de WhatsApp da equipe do secretário da Previdência e do Trabalho, Rogério Marinho.
Na manhã de sexta (12), antes da retomada da análise da reforma pelo plenário da Câmara, não foi diferente.
"Vamos lá. Falta apenas um tempo de jogo. Sei que está todo mundo cansado, mas todo mundo quer ganhar. Agora é mão no peito, cabeçada no queixo, e vamos passar por cima igual a um trem. E vamos ganhar. Pode falar para todo mundo", disse Frota no áudio de 22 segundos.
Eleito na onda do bolsonarismo para o primeiro mandato, Frota não tem poupado críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Na manhã desta sexta, depois da votação de a reforma entrar pela madrugada, o deputado subiu à tribuna para rebater o que chamou de "bolsonaristas desiludidos".
Os apoiadores de Bolsonaro foram às redes sociais atacar a decisão do PSL, partido do presidente, de trabalhar para aprovar regras mais vantajosas para a aposentadoria de policiais.
"Se esses bolsonaristas estão em frenesi e nervosos pela decisão que tomamos a favor dos policiais, eles não deveriam estar aqui nas redes, eles deveriam estar lá na rampa do Palácio [do Planalto], porque o erro vem de lá", disse Frota.
Na semana passada, Bolsonaro disse que "errou" por não ter incluído regras mais brandas para policiais federais e rodoviários na reforma da Previdência. Passou a atuar para que o Congresso fizesse a mudança no texto da proposta.
Frota não faz questão de esconder as críticas ao modo de governar de Bolsonaro. Na manhã deste domingo (14), ele foi ao Twitter cobrar nova postura do presidente para a votação em segundo turno da Previdência na Câmara, prevista para 6 de agosto.
"O governo Bolsonaro precisa entender que vem aí o segundo turno da Previdência e muitas outras pautas importantes. Está na hora de o Bolsonaro dar valor ao Congresso e respeitar os deputados que fizeram um grande trabalho aprovando a Previdência", escreveu.