Cerca de 2 mil indígenas acamparam nesta quarta-feira (24) em Brasília sob uma forte operação de segurança, iniciando três dias de manifestações para denunciar a expansão das atividades mineradoras e agropecuárias em detrimento de suas terras ancestrais.
Durante a madrugada, os líderes indígenas começaram a instalar o "Acampamento Terra Livre" na Esplanada nos Ministérios, acompanhados por importantes contingentes policiais.
"Nossas terras são sagradas. Não à mineração em terras indígenas", destacava um dos cartazes instalados diante do acampamento montado na frente do Congresso nacional. "Nossos direitos não são negociáveis", dizia outra mensagem.
O "Acampamento da Terra Livre" ocorre desde 2004. Este ano, começa em um clima de tensão em relação ao governo Bolsonaro, que se manifestou repetidas vezes contra novas demarcações de terras indígenas e em favor da expansão das atividades econômicas questionadas pelos povos nativos e pelos defensores do meio ambiente na Amazônia.
— Desde 1º de janeiro (quando Bolsonaro assumiu o cargo), o governo atacou os povos indígenas em todos os seus direitos, sendo um deles a educação — disse Luana Kumaruara, 33 anos, natural do Pará e professora de Antropologia.
Na semana passada, o presidente questionou a organização do acampamento indígena.
— Haverá um grande encontro de indígenas na próxima semana. Dez mil indígenas são esperados aqui em Brasília, e quem pagará a conta pelos 10 mil índios que vêm? Você — afirmou em uma transmissão ao vivo no Facebook.
Essa afirmação foi imediatamente refutada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), responsável pelo evento, que garantiu que a iniciativa é financiada com campanhas próprias de captação de recursos.
Segundo dados oficiais, cerca de 800 mil indígenas de 305 grupos étnicos vivem no Brasil, um país com 209 milhões de habitantes.
A Constituição brasileira determina que esses povos tenham o direito de usufruto exclusivo sobre as terras que ocupam, mas a demarcação é ameaçada pela exploração madeireira ilegal, pela expansão da pecuária e pelo avanço da fronteira agrícola.