Durante visita aos Estados Unidos nesta segunda-feira (29), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que é preciso manter a pressão diplomática sobre o regime de Nicolás Maduro, mas mostrou cautela ao discutir prazos para a possível destituição do presidente da Venezuela.
Às vésperas de uma manifestação popular marcada para o feriado de 1º de Maio contra Maduro, Araújo disse que é preciso "ser prudente" e "não esperar demais nesse momento". Autodeclarado presidente da Venezuela no início do ano, o opositor Juan Guaidó convocou os protestos.
— Precisamos ser prudentes porque, desde janeiro, temos a expectativa de que o processo de transição democrática se complemente e aconteça a partir da ascensão do presidente (Juan) Guaidó. A esperança é sempre muito presente de que essa extraordinária mobilização popular que está havendo na Venezuela se consolide e que haja realmente o recomeço da democracia — disse Araújo após reunião com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.
— Mas é preciso ser prudente e não esperar demais nesse momento. Se for nesses dias (a destituição de Maduro), seria realmente extraordinário — completou.
Esta é a terceira vez que o chanceler brasileiro viaja a Washington desde o início do governo de Jair Bolsonaro. Nesta segunda, além de Pompeo, Araújo foi recebido - a seu pedido - pelo secretário de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton.
Ambos são os principais conselheiros do presidente Donald Trump conhecidos por defender uma posição linha-dura diante da crise venezuelana, sem descartar, inclusive, uma intervenção militar.
Araújo, por sua vez, afirmou que não houve nenhuma mudança de posição do Planalto -contrário a uma ação que vá além da ajuda humanitária na fronteira - e disse a jornalistas que seu encontro com integrantes da alta cúpula do governo americano foi apenas para atualizar compromissos fechados durante a visita de Bolsonaro ao país, no mês passado.
— Seguimos com a pressão diplomática em todas as frentes, estimulando a mobilização popular e há muita expectativa para o 1º de Maio. Temos esperança, não sabemos se vai acontecer agora ou um pouco mais adiante, mas estamos seguros de que vai haver o retorno da democracia na Venezuela — disse.
Quem acompanha visitas de autoridades internacionais aos EUA afirma que causa estranheza o retorno do chanceler apenas pouco mais um mês depois da viagem do presidente.
Araújo esteve em Washington em fevereiro para preparar a chegada de Bolsonaro; durante a viagem do presidente, em março, acompanhou a comitiva do governo brasileiro, e nesta segunda, reuniu-se com Pompeo e Bolton.
O ministro disse que estava em Los Angeles neste domingo (28) para um seminário sobre investimentos e aproveitou para ir à capital americana - o deslocamento entre as cidades, porém, é de quase seis horas de avião.
Na avaliação de Araújo, a pressão econômica feita principalmente pelos EUA tem surtido efeito para sufocar o regime de Maduro e, apesar de a ordem no Brasil ser de seguir com a pressão diplomática, é preciso "ver sempre quais seriam os próximos passos".
— Falamos da necessidade de continuar (pressionando o regime), sem esmorecer. A situação continua, a meu ver, avançando rumo à deslegitimação de Maduro — afirmou.
Após o encontro com Pompeo, Araújo seguiu para a Casa Branca onde se reuniu com Bolton. Segundo o chanceler, a situação na Venezuela "é muito volátil" e, por isso, "é importante estar conversando permanentemente" sobre o assunto.
— Há esse fato novo, a mobilização convocada para 1º de Maio, há expectativa sobre isso, então, quer dizer, não mudou o ponto central que é nosso compromisso pelo fim do regime Maduro.
Durante a visita, Araújo estava acompanhado do embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral - cuja remoção, porém, já foi publicada no Diário Oficial da União - , do embaixador interino, Fernando Pimentel, e do diplomata Nestor Forster, principal cotado para substituir Amaral no posto.