O Ministério Público Federal (MPF) informou, na tarde desta quinta-feira (21), que o ex-presidente Michel Temer e o coronel João Baptista Lima Filho atuam há décadas para desviar recursos públicos. Em coletiva, procuradores destacaram que um delator da Engevix citou repasse de R$ 1,1 milhão para uma das empresas do militar da reserva, apontado pelos investigadores como operador financeiro de Temer. O ex-chefe do Executivo, Lima, o ex-ministro Moreira Franco e outros investigados foram presos na manhã desta quinta.
— O coronel Lima é um dos operadores financeiros do Michel Temer e tinha como função arrecadar valores espúrios e de vantagens indevidas em razão de obras contratadas pelo governo federal — disse o procurador da República Eduardo El Hage.
A Lava-Jato no Rio de Janeiro nasceu a partir de investigações no bojo da Eletronuclear. Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da empresa, preso desde agosto de 2015. Segundo o MPF a indicação de Othon para o cargo foi articulada por Temer em troca de vantagens indevidas, segundo El Hage:
— Foi comprovada que a indicação do próprio Othon como presidente da Eletronuclear foi obra do ex-presidente Michel Temer desde 2005. Ele foi colocado dentro da Eletronuclear por obra de Michel Temer. E como contrapartida por sua indicação foi exigida a contratação da Argeplan pela Eletronuclear.
O Coronel Lima é apontado como um dos responsáveis pela Argeplan. O procuradora da República disse que a empresa foi subcontratada para prestar serviços que fugiam de sua área de atuação:
— A Argeplan foi subcontratada para uma tarefa que não tinha menor capacidade de executar.
A procuradora Fabiana Schneider detalhou como começou a relação entre Temer e o coronel Lima, na década de 1980, quando o ex-presidente atuava como secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Desde essa época, os dois atuam juntos para lesar os cofres públicos, segundo os membros do MPF:
— Foi identificado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que houve uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões em espécie na conta da Argeplan. Esse fato ainda precisa ser mais bem investigado e apurado. É apenas uma comunicação do Coaf, mas esse fato, de acordo com o que foi registrado pelo Coaf, aconteceu em outubro de 2018. Um fato extremamente recente, que aconteceu depois da prisão temporária do coronel Lima. Esse fato precisa ser mais bem apurado, mas é um indicativo de que a organização criminosa continua atuando.
Planilha com o nome MT
Fabiana Schneider disse que uma planilha indica pagamentos para o ex-presidente ao longo dos últimos anos:
— Existe uma planilha que demonstra que promessas de pagamentos foram feitas ao longo de 20 anos para a sigla MT. Ou seja, Michel Temer .
Segundo os investigadores, a organização criminosa liderada por Temer foi responsável por movimentar R$ 1,8 bilhão. O procurador Sérgio Pinel disse que os investigadores chegaram até esse valor somando "propina paga" ou "promessa de propina" relacionados aos investigados.
— Esse grupo criminoso, que está sendo investigado e que foi objeto hoje das medidas cautelares adotava como modus operandi no recebimento de propina o parcelamento dessa propina por vários e vários anos. Então, todas as propinas que nós identificamos, que tenham sido objeto de denúncia ou que estejam em investigação, em relação a essa organização criminosa, propina paga ou promessa de propina, nós somamos e chegamos a essa cifra.
Policiais monitorados
O procurador José Augusto Vagos afirmou que a organização criminosa trabalhava para obstruir as investigações. O membro do MPF disse que existia um trabalho para "higienizar" a sede da Argeplan para destruir provas de ilícitos. Vagos disse que os investigados também monitoravam policiais:
— Foi descoberto que os investigadores da Polícia Federal vinham sendo monitorados. Inclusive, foram apreendidos papeis com dados pessoais de investigadores da Polícia Federal, que é um dado gravíssimo, que fundamenta por si só uma prisão temporária.
A Polícia Federal (PF), também presente na coletiva, disse que elementos colhidos durante as operações Radioatividade, Pripyat e Irmandade auxiliaram no âmbito da ação que prendeu Temer e Moreira Fraco. A coletiva de imprensa foi encerrada por volta das 17h30min. Os membros do MPF e da PF alegam que a operação desta quinta-feira ainda está em andamento.