O procurador Eduardo El Hage, um dos responsáveis pela força-tarefa da Lava-Jato no Rio de Janeiro que resultou na prisão de Michel Temer, afirmou nesta sexta-feira (22) não acreditar na concessão de habeas corpus ao ex-presidente, cuja defesa já recorreu à Justiça solicitando sua soltura. Ao frisar que Temer era líder de uma organização criminosa, El Hage afirmou que a ação seria "totalmente desmedida".
— Se ele fosse acusado de ter praticado uma série de crimes de falsidade documental, ou roubo a caminhões, ele não seria solto pelos tribunais brasileiros. Não é porque ele é branco, rico e de classe alta que ele deve ser colocado em liberdade numa situação como essa. O que ele fez foi aviltante às instituições brasileiras — sustentou o procurador em entrevista ao Gaúcha Atualidade.
Na quinta-feira (21), mesmo dia em que Temer foi detido, foram protocolados no Tribunal Superior Federal da 2ª Região (TRF-2) dois pedidos de habeas corpus para libertar o ex-presidente. O primeiro documento foi assinado durante a tarde por Eduardo Silveira Arruda, que é ex-aluno de Temer e não faz parte da defesa oficial do ex-presidente. Os advogados de defesa de Temer fizeram outro pedido no início da noite, às 19h43min.
Segundo El Hage, as investigações a Temer causaram espanto e estranheza às autoridades por demonstrar prática de negociações continuadas e mensais.
— Isso ficou bem comprovado no Inquérito dos Portos, no qual ele negociou propinas por 20 anos. As empresas que estavam ganhando as licitações tinham um compromisso com ele de que deveriam fazer aportes mensais — explicou o procurador — Foge um pouco do pedido pontual e específico e passa a ser um pedido continuado e sucessivo —completou.
Indagado sobre o pedido de prisão preventiva ser feito três meses após Temer já ter deixado a Presidência — o que o colocava com impedimento constitucional —, o procurador atrelou o fato ao trâmite burocrático:
— Nós aqui no Rio de Janeiro só conseguimos ter acesso ao material no final de fevereiro. É algo que demora e foge ao nosso controle. É um material muito substancioso que foi enviado pelo STF em razão das investigações e a peça tem mais de 300 páginas — disse.
— Não faz sentido que Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, que são membros de estatura inferior na organização, se encontrassem presos, e o líder da organização se encontrava solto. A estatura do cargo que ele ocupou não é motivo para mantê-lo longe da lei e acima de qualquer aplicação da lei penal — frisou.