![Marcos Oliveira / Agência Senado/Divulgação Marcos Oliveira / Agência Senado/Divulgação](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/24819497.jpg?w=700)
O senador Magno Malta (PR-ES) deverá ocupar um cargo no centro do poder, mas um degrau abaixo de suas pretensões, apesar da fidelidade a Jair Bolsonaro (PSL). Sem mandato a partir de fevereiro, o senador já se considerava ministro após a vitória do amigo. Prestigiado, foi ele quem liderou uma oração em rede nacional que precedeu o primeiro discurso do presidente eleito, após o fim do segundo turno. Mas, assim que as negociações para compor o futuro governo se iniciaram, acabou engolido pelo jogo político e pelo próprio passado.
Resistências dentro da família Bolsonaro e no núcleo militar, em especial do vice-presidente eleito general Hamilton Mourão, foram desidratando aos poucos o nome de Malta, em um processo iniciado ainda na campanha. Nos bastidores, pegou mal a divulgação na internet de fotos em que o senador aparece ao lado de Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
A citação de seu nome em escândalos de corrupção em anos anteriores contribuiu para reduzir sua influência.
– Estava tudo encaminhado, mas houve percalços no caminho que atrapalharam o convite para o ministério – comenta uma das principais figuras do PR no país.
Na esfera política, a pasta inicialmente destinada ao parlamentar acabou nas mãos do MDB. O Ministério da Cidadania foi entregue ao deputado federal Osmar Terra (RS), pavimentando o caminho para que o partido do presidente Michel Temer participe do futuro governo, além de agradar a bancada temática ligada à assistência social no Congresso.
O fio de esperança que ainda havia em ocupar um cargo no primeiro escalão foi rompido por Bolsonaro, que convidou Damares Alves, assessora do senador, para o novo Ministério dos Direitos Humanos. Ao ser questionado se ainda haveria espaço para Malta na Esplanada, o presidente eleito disse que não vai abandonar o aliado, mas mandou um recado:
– Não fiz campanha prometendo absolutamente nada para ninguém, pretendemos aproveitar boas pessoas. Agora, não podemos dar ministério para todo mundo.
Antes do início da campanha, Malta foi convidado por Bolsonaro para ser seu vice. Declinou do convite por achar que as chances de não se reeleger para o terceiro mandato de senador eram remotas.
Para aliados, o motivo do insucesso do senador nas urnas foi o comprometimento com a campanha presidencial, o que o fez ficar longe de seu Estado. O líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia, criticou o futuro presidente.
– Para mim, Bolsonaro disse três vezes que estava pensando em colocar Magno no Ministério da Cidadania. Apoio integralmente o Bolsonaro, mas não vou concordar 100% com as ações dele – disse.
Malafaia fez lobby para emplacar o procurador Guilherme Schelb para a pasta da Educação, mas também não obteve êxito.
Sem esconder o desapontamento, Malta decidiu deixar Brasília na última terça-feira e se refugiar na residência que mantém na região de Vila Velha, litoral capixaba. A pessoas próximas, relatou estar magoado e reclamou da demora em receber um eventual convite.
Passou parte do tempo lutando jiu-jitsu com amigos, em um tatame instalado na propriedade. Houve tempo ainda para jogar vôlei e fazer musculação. Presidente do PR no Espírito Santo, também debateu política com aliados. Na sexta-feira, porém, convocou a família para discutir um possível convite para o posto de assessor no Planalto, cargo que seria ligado a Bolsonaro, mas no segundo escalão.
– Acho que vai aceitar, mas ele quis consultar as pessoas de casa primeiro – revela um amigo próximo, mencionando que o caso deverá ser decidido nesta terça-feira (4).
Apesar de ficar sem mandato em 2019, a família Malta estará representada no Congresso. Sua mulher, a cantora gospel Lauriete Malta (PR-ES), foi eleita à Câmara para o segundo mandato.
O caminho do parlamentar
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- Baiano de nascimento, foi no Estado vizinho do Espírito Santo onde Magno Malta fez sua carreira política, dividida entre as atividades de cantor gospel e pastor evangélico. Aos 61 anos, possui 25 de vida pública. Em 1993, foi eleito vereador em Cachoeiro do Itapemirim. Quatros anos depois, chegou à Assembleia Legislativa e, em 1999, à Câmara dos Deputados.
- Conquistou uma vaga no Senado em 2003, sendo reeleito em 2010. Com discurso forte e, muitas vezes, polêmico, obteve maior projeção a partir de pautas conservadoras. Presidente da CPI dos Maus Tratos, defende prisão perpétua em casos de estupro de crianças. Atualmente, é processado por um homem que foi acusado pelo senador de ter abusado da filha. O caso ocorreu em 2009 e o réu foi absolvido em todas as instâncias da Justiça.
- Em 2007, Malta foi indiciado pela Polícia Federal por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro por suposta participação no caso conhecido como “máfia dos sanguessugas”, esquema de compras de ambulâncias superfaturadas. Em 2014, o parlamentar teria recebido R$ 100 mil da empresa Cozinhas Itatiaia, além de ter utilizado um avião particular da companhia. Ele nega irregularidades em ambos os casos.
- Por ter ficado em terceiro na corrida ao Senado deste ano, que oferecia apenas duas cadeiras, deixará o Congresso em 1º de fevereiro.