A segurança do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) foi reforçada logo após o atentado sofrido por ele em setembro. Hoje se revezam na proteção dele 55 agentes da Polícia Federal. Já foram 35. Em deslocamentos de carro, há acréscimo de PMs de batalhões de choque, para driblar multidões. Por quê? Além da tentativa de assassinato já sofrida, há suspeita de que outro atentado é planejado.
GaúchaZH confirmou com o general da reserva Sérgio Etchegoyen, atual chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, que uma investigação apontou novas ameaças a Bolsonaro. O GSI é responsável, entre outros, pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Etchegoyen prefere não dar detalhes, mas afirma que o risco é real e foi detectado. Tanto que, pela primeira vez em muitos anos, é provável que o presidente não faça desfile em carro aberto no dia da posse (é usado um Rolls-Royce modelo 1953, doado pela Inglaterra).
O também general da reserva Augusto Heleno, já anunciado como futuro ministro da Defesa, disse no Twitter que há "real ameaça de atentado terrorista" contra Bolsonaro, articulada por uma "organização criminosa". Ele não nominou qual.
Fontes confidenciaram a GaúchaZH que a organização seria o Primeiro Comando da Capital (PCC). Existiriam interceptações de telefonemas e de conversas de WhatsApp, antes mesmo do fim da campanha eleitoral, que mostram o desagrado da facção com a possível eleição de Bolsonaro.
Motivos de contrariedade não faltam. Uma das ideias cogitadas pela equipe de Bolsonaro é o endurecimento dos regimes de cumprimento de pena, mudança que precisa passar pelo Congresso Nacional. É discutido, por exemplo, colocar em presídios de segurança máxima os condenados por crimes hediondos. O contato deles com visitantes seria feito apenas através de vidros e sem visita íntima. Além disso, os benefícios de redução da pena podem ser encolhidos, com maior tempo no regime fechado.
A PF inclusive trabalha com a hipótese de que o PCC esteja por trás do atentado a faca sofrido por Bolsonaro durante a campanha eleitoral, em 6 de setembro. O homem que esfaqueou o candidato, Adélio Bispo de Oliveira, foi defendido por quatro advogados e um deles também tem clientes ligados ao PCC. O ex-presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, disse que a PF tem indícios dessa relação.
Um dos problemas é que falta uma motivação mais clara. Os riscos de atacar um presidente talvez fossem bem maiores que os benefícios. E ainda não existem indícios consistentes.
Mas não só o PCC é investigado numa suposta trama para matar Bolsonaro, reforçam fontes. O ministro extraordinário Onyx Lorenzoni disse a amigos que a organização xiita libanesa Hezbollah faria parte de um complô contra o presidente eleito. GaúchaZH confirmou com amigos de Onyx, conhecido político gaúcho, que existe mesmo a suspeita. O motivo? Bolsonaro teria contrariado profundamente os muçulmanos ao reconhecer Jerusalém como verdadeira capital dos judeus e cogitar transferência da embaixada brasileira para aquela cidade - quando, para os islamitas, Jerusalém é cidade de três religiões (judaica, maometana e cristã). Com relação a essa hipótese há ainda menos indícios que as relativas ao PCC. Uma organização estrangeira tramar o assassinato de um presidente brasileiro, algo inédito e arriscadíssimo (pelas represálias que sofreria), soa a muitos especialistas como algo implausível e improvável. Mas extremistas xiitas já se envolveram em dois atentados políticos a bomba na Argentina, nunca é demais lembrar, reforça um militar consultado pela reportagem.
Pontos fortes e fracos da teoria do atentado
A favor da hipótese de complô anti-Bolsonaro
- O PCC e outras facções tendem a ser fortemente prejudicados pela política "linha-dura contra o crime" prometida por Bolsonaro.
- Um dos maiores temores dos chefes de facções é ficar muito tempo no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que já restringe visitas e comunicações. A promessa de Bolsonaro é restringir ainda mais e cortar visitas íntimas aos autores de crimes hediondos.
- O Hezbollah e o PCC mantêm laços, conforme apontam investigações da Polícia Federal e da FDD (Foundation for Defense of Democracies), instituto de política externa e segurança nacional dos EUA. As duas organizações teriam contato na Tríplice Fronteira (Paraguai, Argentina e Brasil, junto à cidade paranaense de Foz do Iguaçu, onde há uma importante comunidade muçulmana). As duas organizações usariam os mesmos doleiros e teriam esquema de lavagem de dinheiro em comum, sobretudo com vistas a contrabando de cigarros. Meses atrás foi preso um influente líder do Hezbollah, em Foz do Iguaçu. Ele era procurado por lavagem de dinheiro.
Contra a hipótese de complô anti-Bolsonaro
- Por que o PCC se preocuparia em tramar um atentado (a facada em setembro) contra um presidente que sequer estava eleito ainda? Facções costumam agir em represália contra quem as persegue, mas Bolsonaro até agora era apenas um deputado. Além disso, um plano desses atrairia toda a fúria do aparato policial-estatal contra a organização, algo que seus líderes não desejam.
- Qual a vantagem do Hezbollah em assassinar o presidente de um país que jamais perseguiu essa organização e tem laços de amizade com muçulmanos, como o Brasil? Essa organização muçulmana não costuma fazer isso, sequer em países que a repudiam.
- As autoridades brasileiras, até agora, não mostraram qualquer prova ou mesmo indício de que existe o complô. Datas, forma, quem seriam os executores...