Caso a tradição seja mantida, o próximo comandante do Exército deve ser o general Edson Leal Pujol, 63 anos, gaúcho de Dom Pedrito. Hoje ele ocupa o Departamento de Ciência e Tecnologia da força militar, em Brasília. O atual comandante, general Eduardo Villas Bôas, também gaúcho, 66 anos, está no final da carreira.
A escolha do comandante é feita em duas etapas. A primeira é interna: é elaborada uma lista com os quatro generais mais antigos dentre os 17 generais-de-Exército — não necessariamente os mais velhos, mas os que ganharam há mais tempo suas estrelas nos ombros. Ela é recolhida pelo ministro da Defesa, que define três nomes e os envia ao Presidente da República (constitucionalmente, chefe das Forças Armadas).
A lista é por ordem de antiguidade, para evitar interferência política efetiva. Via de regra, é respeitada, tanto pelo ministro da Defesa quanto pelo presidente. Foi assim, por exemplo, nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele nomeou os generais-de-Exército mais antigos na época, Francisco Roberto de Albuquerque (2003) e Enzo Martins Peri (2007), que ficou oito anos no cargo. Já Dilma Rousseff, no seu segundo mandato —iniciado em 2014 —, inovou ao escolher Villas Bôas, que não era o mais antigo. Temer o manteve no comando, até agora.
Ao passar para o comando, o general escolhido imediatamente vai para a reserva. Do comando-geral é obrigado a se aposentar, compulsoriamente.
Pujol está prestes a completar 12 anos como general, tempo máximo permitido. Caso não seja escolhido para comandar o Exército, deve ir para a reserva em março de 2019.
Dois fatores contribuem para que ele seja escolhido. O primeiro, já mencionado, é a antiguidade na carreira. O outro é que, caso o general Villas Bôas tenha de deixar o cargo por motivo de doença, Pujol é seu substituto-natural — e isso independe da vontade presidencial. E Villas Bôas está doente. Ele está com esclerose lateral amiotrófica, um problema degenerativo, que exige inclusive que faça uso de tubos de oxigênio para respirar, em determinadas ocasiões. É grande a possibilidade de que deixe o cargo logo após a escolha, nas urnas, do próximo presidente da República. Respeitado o critério tradicional, Pujol deve ser o novo comandante do Exército, com Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad como presidente.
Dificilmente Pujol seria barrado na escolha por Jair Bolsonaro, de quem foi colega da turma que se formou oficial em 1977 na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Rezende (RJ). Ele continuou até o generalato, enquanto Bolsonaro interrompeu a carreira nos Anos 1980, como capitão.
A lista tríplice a ser enviada ao presidente eleito incluirá ainda dois outros contemporâneos de Bolsonaro na Aman: os generais Paulo Humberto César de Oliveira (carioca, hoje chefe do Estado-Maior do Exército) e Mauro Cesar Lourena Cid (nascido no Estado do Rio e chefe do Departamento de Cultura e Educação, responsável pelas escolas militares no país). Apesar de amigos do presidenciável, nenhum dos três fez campanha para ele, já que isso é vetado pelos regulamentos militares. O quarto em antiguidade, entre os generais-de-Exército, é Carlos Alberto Neiva Barcellos.
Quem é Pujol
O general Pujol tem uma estreita e longa relação com o Rio Grande do Sul. Ele já comandou a 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada de Santiago e chefiou o Comando Militar do Sul de 2016 a 2018. É filho do coronel da BM Péricles Pujol.
O general estudou no Colégio Militar de Porto Alegre de 1967 a 1970. Começou carreira militar como aspirante a oficial, e cursou a Academia Militar de Agulhas Negras. É da Cavalaria, arma pela qual tirou primeiro lugar na turma da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.
Em 2011, no primeiro governo Dilma, Pujol foi chefe do CIE (Centro de Inteligência do Exército), em Brasília, órgão que produz informações confidenciais sobre a situação do país.
Entre março de 2013 e março de 2014, Pujol comandou a Força de Paz na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah). Ele também foi ligado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI, responsável pela Agência Brasileira de Inteligência — Abin), entre abril de 2014 e abril de 2015.
Pujol é considerado "liberal" para os padrões das Forças Armadas. Defende a legalidade e sempre negou alinhamento com qualquer tendência de "intervenção militar" fora do papel constitucional. Assim como os demais generais cotados para o comando, é crítico ao comunismo. É cristão devoto, conciliador e discreto nos modos.