Após o corregedor-nacional do Ministério Público (CNMP), Orlando Rochadel, abrir reclamação disciplinar contra três promotores do MP de São Paulo, o procurador da República Antônio Carlos Welter – integrante da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba – afirmou que existe um “tempo de maturação” para cada investigação, independente dos períodos eleitorais. Na terça-feira (11), o conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello, integrante do CNMP pela cota do Senado, pediu que a Corregedoria apurasse a "regularidade da instrução de feitos que possam ter impacto nas eleições de 2018".
O pedido é relacionado às ações propostas pelo MP paulista contra os candidatos à Presidência Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) e também às operações Piloto e Radiopatrulha, que levaram à prisão o ex-governador do Paraná Beto Richa, candidato ao Senado pelo PSDB.
Cada um de nós tem a sua posição política, suas cores, sua ideologia. Quem me conhece sabe o que eu penso, mas isso diz respeito ao meu foro íntimo.
ANTÔNIO CARLOS WELTER
Procurador da República
— Se olharmos para o passado e verificarmos que a Lava-Jato tem mais de quatro anos, veremos que vamos atravessar a terceira eleição. Em cada uma delas sempre houve críticas sobre o porquê se faz uma investigação ou operação perto de uma eleição, e a nossa resposta é que estamos apurando os fatos. As investigações têm um tempo de maturação, e não podemos simplesmente dar uma quarentena antes das eleições para deixar os fatos sem apuração — explicou Welter em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (14).
Para o procurador, há fatos graves sendo apurados pelas investigações, e o prazo de prescrição não para em decorrência das eleições. Por isso, assim como em outras ocasiões, houve atuação da Lava-Jato durante o período eleitoral:
– Cada um de nós tem a sua posição política, suas cores, sua ideologia. Quem me conhece sabe o que eu penso, mas isso diz respeito ao meu foro íntimo. Nenhum de nós é uma alface. Todos nós temos convicções. Agora, não há uma ação do Ministério Público ou do Judiciário em prol deste ou daquele candidato. Sempre houve atuação da força-tarefa em face de atos criminosos durante as eleições nos últimos cinco anos, e vamos continuar atuando dessa forma.
Ouça a entrevista na íntegra:
Questionado sobre o tempo que demorou para o encaminhamento da investigação contra Richa, cujas denúncias surgiram a partir das delações da Odebrecht, em dezembro de 2016, Welter explicou que o processo passou por diferentes instâncias e só chegou recentemente à força-tarefa da Lava-Jato no Paraná.
– Ele esteve, enquanto governador, submetido ao foro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Até abril estávamos impedidos de medidas investigatórias. O fato que envolvia ele não estava conosco, então não podíamos colher dados ou fazer qualquer investigação. Em abril, o processo desceu para o Paraná, mas tivemos uma situação, que foi uma surpresa, que envolveu uma discussão se o fato que envolvia ele era crime eleitoral ou não. Essa investigação veio definitivamente para a força-tarefa há cinco semanas. Se tivesse vindo antes para nós, teríamos tomado providencias anteriormente – justificou o promotor.
Sobre o futuro da Lava-Jato, Welter afirmou que ela irá durar pelo menos até setembro do próximo ano e que, no momento, existem algumas prioridades nas investigações:
– Temos dado prioridade a alguns aspectos, como investigados que estão perto dos 70 anos e teriam prescrição por idade, fatos mais antigos de oito ou 10 anos e que poderão ser prescritos. Nosso foco está em analisar os fatos que, se não tomarmos providencias, se perderá possibilidade de serem investigados. Além disso, estamos dando preferência àqueles que estão descendo do STJ e dos tribunais de segunda instância em função da perda do foro privilegiado, já que muitas dessas pessoas se encontram em situação temporária, ou seja, se afastaram de um cargo para concorrer a outro.