José Dirceu, ministro mais poderoso do governo Lula, abriu a caixa de memórias do Palácio do Planalto no livro José Dirceu — Memórias (Geração Editorial). O líder estudantil, guerrilheiro, deputado, presidente do PT, advogado e ministro-chefe da Casa Civil de Luiz Inácio Lula da Silva se diz historicamente perseguido pelo PSDB e que demorou a perceber que era o principal alvo da oposição nos anos em que integrou o núcleo duro do governo, de 2003 a 2005. " O tucanato escalou-me como alvo, objetivo, caça, visando ao meu afastamento do governo, se possível através da cassação, já que fora eleito deputado federal por São Paulo com 513 mil votos", afirma em um dos trechos do livro que GaúchaZH teve acesso.
A explicação, tanto para essa dita perseguição pessoal quanto para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mais de uma década depois, foi a "invasão do povo nos meios socais e culturais" da elite.
"Era insuportável para eles ver o povo ascender por políticas públicas universais na cultura, na renda, na cidadania e no poder".
Condenado em 2012 por corrupção ativa e formação de quadrilha, foi considerado chefe da quadrilha do mensalão. Em 15 de novembro de 2013, após ter a prisão decretada, ergueu o punho em saudação a militantes do PT ao se entregar na Polícia Federal de São Paulo para o cumprimento da pena de sete anos e 11 meses em regime semiaberto.
Ao falar de erros, diz que o PT subestimou "o papel de grandes empresários" no apoio e "financiamento de movimentos como o Vem pra Rua e o MBL (Movimento Brasil Livre), agora Partido Novo, apoiadores do golpe, e hoje, do governo Temer".
GaúchaZH teve acesso a três capítulos do livro de 554 páginas que será lançado dia 4 de setembro no Rio de Janeiro. Em outros trechos, como os concedidos ao jornal O Globo, Dirceu diz ter sido abandonado pelo ex-presidente. Ele expõe sua mágoa ao descrever o encontro final com Lula.
"Não me pediu para ficar, não me propôs nenhuma outra tarefa, simplesmente me demitiu”, conta. "Foi melancólico e simbólico, como se tudo já tivesse decidido, poucas palavras, monossílabas, uma cena um tanto derrotista e pequena", dramatiza. "Eu me emocionei e chorei".
Em outra passagem, conta a desilusão tida em 27 de outubro de 2002, quando o presidente eleito escolheu José Genoino para discursar na festa da vitória. "Lula não falou comigo e não me comunicou nada", reclama. "Fui simplesmente excluído e comunicado disso por um mero assessor". "Meu primeiro impulso foi de me retirar, mas me controlei", prossegue. Ele diz que a noite marcou sua "primeira grande decepção com Lula". "Foi duro, mas aceitei".
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) nomeados pelo PT também são lembrados, mas sem nenhum afeto. Chama Joaquim Barbosa de "autoritário", Luís Roberto Barroso de "fraude" e Edson Fachin de "engodo". "Erramos e feio nas indicações, ao ponto de sermos enganados por um charlatão togado", escreve Dirceu. Diz ainda que Tarso Genro "criou uma pequena crise, exigindo ser ministro" e acusa Dilma Rousseff de promover uma "caça às bruxas" ao substitui-lo na Casa Civil.