O ex-ministro José Dirceu escreveu, do Complexo Médico-Penal, em Pinhais, no Paraná, uma carta na qual defende uma guinada à esquerda do PT. O texto, de 14 páginas, foi acessado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
A mensagem foi escrita antes de Dirceu ter a prisão revogada pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de terça-feira. Na mensagem, o petista compara os delatores que o acusaram a "cachorros da ditadura" e critica o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF) e o juiz Sergio Moro.
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Na mensagem, Dirceu classifica o governo Michel Temer e a mídia como "golpistas" e especula sobre as eleições presidenciais de 2018. "Darão outro golpe, condenarão e prenderão Lula? Serão capazes dessa violência e ilegalidade? Veremos".
Condenado a mais de 32 anos de prisão por Moro em dois processos da Lava-Jato, o petista envia, desde 2016, cartas para companheiros de partido e amigos. "Na prisão ou em liberdade, sou um militante político e sempre serei", afirmou.
O petista também descreveu a sua rotina no cárcere, onde vive em uma cela de três metros de largura por seis de comprimento, e disse que espera ser absolvido. "Se há juízes em Brasília, sairei da prisão e serei absolvido. Trata-se de um processo político, sumário, de exceção", escreveu. "Na prática, eu estou condenado à prisão perpétua", completou.
Na avaliação de Dirceu, as delações na Lava-Jato são "forçadas, ilegais, fruto das prisões preventivas, ameaças de pena sem direito a responder em liberdade ou progredir". Segundo ele, ou "é delação ou prisão perpétua"
Sobre o PT, o ex-ministro disse que "nada será como antes" e que o partido não voltará a cometer os mesmos erros. "Seguramente, voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política", pontuou.
Dirceu ainda qualifica o impeachment de Dilma Rousseff como um "golpe" e defendeu a aprovação da lei de abuso de autoridade e a rejeição às 10 medidas contra a corrupção sugeridas pelo MPF.