Em depoimento nesta quinta-feira (3), Maristela Temer, uma das filhas do presidente Michel Temer, disse à Polícia Federal (PF) que usou empréstimos e dinheiro da mãe para pagar uma reforma em sua casa, em 2014, mas não apresentou comprovantes. Os investigadores suspeitam que esta é uma das obras pagas como propina ao presidente.
O testemunho de Maristela ocorre no âmbito das investigações da Operação Skala, que apura as suspeitas de pagamentos ilícitos envolvendo Temer e empresas do setor portuário em troca de um decreto presidencial.
Conforme revelado pelo Jornal Nacional, ela teria admitido que Maria Rita Fratezi, mulher do coronel João Baptista Lima Filho, fez alguns pagamentos, mas negou que o recurso tenha vindo de seu pai. O coronel é amigo pessoal de Temer e apontado por delatores como um intermediário do presidente para o recebimento de propina.
As suspeitas iniciaram em 2017, quando os delatores da JBS disseram que entregaram R$ 1 milhão de propina ao coronel Lima. Até o momento, a apuração da polícia aponta que o presidente recebeu, por meio do coronel Lima, ao menos R$ 2 milhões de propina em 2014.
Parte do dinheiro, cerca de R$ 1,5 milhão, teria sido usada para reformar a casa de Maristela — o imóvel de 350 metros quadrados fica em um bairro de casas milionárias na zona oeste de São Paulo.
Na manhã desta quinta, Temer reagiu com ironia ao ser indagado se estaria preocupado com o depoimento de Maristela à Polícia Federal.
— Registrem o meu sorriso — respondeu o presidente, que visitou a 25ª Agrishow, em Ribeirão Preto (SP).
Trechos do depoimento
O depoimento de Maristela Temer durou quatro horas e ocorreu numa sala da Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas. A escolha do local não foi à toa. Para que a filha do presidente Temer fosse ouvida nesta quinta, houve um forte esquema de segurança montado pela própria Presidência da República. Maristela entrou e saiu sem ser vista pela imprensa.
O Jornal Nacional teve acesso a algumas partes do depoimento de Maristela Temer. Segundo o telejornal, Maristela contou ao delegado que pagou a reforma da casa com o dinheiro que ganha como psicóloga, com um empréstimo da mãe, no valor de R$ 100 mil, e com dois empréstimos que ela mesma fez no banco. Mas disse que não tem todos os comprovantes dos pagamentos, porque a reforma foi feita há quatro anos.
Maristela negou que o pai tenha ajudado a pagar a reforma. Disse também que Maria Rita Fratezi e o coronel Lima nunca foram contratados para fazer a obra nem a empresa deles, a Argeplan. Mas reconheceu que, como amiga da família, Maria Rita ajudou a pagar alguns fornecedores e até conseguiu descontos.
Contraponto
Fernando Castelo Branco, advogado da filha do presidente, disse à Globo que o "auxílio" da mulher do coronel foi dado "por carinho a Maristela", "por conhecer desde criança".
A assessoria do presidente Michel Temer informou que os esclarecimentos a respeito da reforma na casa de Maristela Temer seriam feitos pela defesa da filha. O advogado que defende o coronel João Baptista Lima Filho e sua mulher, Maria Rita Fratezi, afirmou que eles não cometeram nenhuma irregularidade.