Desde segunda-feira (19), a caravana de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) depara com protestos por onde passa pelo interior do Rio Grande do Sul. Integrantes da comitiva admitem que, no Estado, o movimento enfrenta a maior resistência de todas as regiões percorridas desde o ano passado — o ex-presidente já passou por cidades do Nordeste e Sudeste.
Devido à resistência, a caravana vem mudando estratégias para evitar os enfrentamentos. Em mais de um município gaúcho, pedras foram arremessadas contra os ônibus petistas. Além de alterar rotas de última hora, o grupo evita divulgar os próximos passos de Lula com antecedência. O roteiro, que tem sofrido pequenas alterações, chega para a imprensa pouco antes do momento de embarcar para o próximo destino.
A animosidade era esperada. Porém, a exposição excessiva de Lula tem preocupado inclusive a sua equipe de seguranças. Informalmente, a guarda do petista recebeu o reforço do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Integrantes do grupo formam cordões de isolamento para a chegada e saída do ex-presidente aos locais de visita.
Na manhã desta quinta-feira (22), as cenas de protesto se repetiram. Em frente às ruínas de São Miguel das Missões, uma manifestação organizada por sindicatos rurais da região marcou a passagem de Lula pela área histórica. Agricultores enfileiraram caminhões e tratores para pedir a prisão do ex-presidente. Alguns vestiam camisetas de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e um homem exibia uma capa de celular com a imagem do deputado federal.
— Estou aqui para não deixar um ladrão condenado pela Justiça implantar o comunismo nesse país. No Rio Grande do Sul, ele não vai se criar — disse o produtor rural Bruno Tagliari, 32 anos, que participou do ato.
Os agricultores também responderam aos últimos discursos feitos por Lula no Estado. As críticas ampliaram o sentimento de indignação, afirma o produtor rural Gilmar Pillon, 40 anos:
— Não admitimos que ele venha aqui dizer que todo o protesto é de agricultor e empresário ingrato. Aqui, somos todos trabalhadores.
Do lado de dentro do sítio arqueológico, o petista foi recebido por grupos indígenas e recebeu um crucifixo produzido à mão que, de pronto, colocou no pescoço. Ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-governador do Estado Olívio Dutra, distribuiu selfies, posou para fotos e ouviu de um guia a história das ruínas.
Integrantes da Terra Indígena do Guarita — a maior aldeia do Rio Grande do Sul — viajaram de Tenente Portela, no Noroeste, para a Região das Missões especialmente para conhecer Lula.
— Vim agradecer pelos programas que ele fez. Graças ao Prouni, hoje tenho diploma e estou ajudando minha comunidade na questão da saúde — contou o técnico em enfermagem Dener Alfaiate, 25 anos.
Emocionados, os caingangues pediam o retorno do petista à Presidência.
— A gente fica muita triste de ver essas pessoas discriminando ele enquanto, na verdade, deveriam agradecer — acrescentou a estudante Ariane Sales, 19 anos.
De São Miguel das Missões, Lula seguiu para Cruz Alta. A caravana do PT pelo Interior termina na noite de sexta-feira (23), com um ato em São Leopoldo, na Região Metropolitana.