Os ataques nas redes sociais do PSOL após o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, na quarta-feira (14), não foram considerados uma surpresa pela direção do partido. Presidente nacional da sigla, Juliano Medeiros, afirmou que o PSOL já vinha se preparando para combater esse tipo de postagens durante o período eleitoral. Para ele, as manifestações expressam um momento de intolerância vivido no país.
— Apesar de ser muito triste, no meio desse momento terrível que o PSOL e a sociedade brasileira vivem, não chega a surpreender levando em conta a crescente intolerância e o ódio nas redes sociais. Por muito tempo essas posições ficaram retraídas porque havia um patrulhamento moral contra esse comportamento. Mas, nos últimos meses, essas posições de extrema-direita, que defendem o racismo, a misoginia, a homofobia e a xenofobia, começam a circular mais livremente nas redes — afirmou Medeiros, que é historiador e cientista político.
Sobre as acusações de que Marielle e integrantes do partido seriam "defensores de bandidos" por se manifestarem favoravelmente aos direitos humanos, o líder do PSOL disse que a busca é por uma Justiça igualitária.
— A gente quer justiça para todo mundo. Para o aviãozinho do tráfico que vende papelote de maconha para sustentar pai e mãe desempregados ou alcoólatras, para o corrupto da Lava-Jato e para os assassinos da Marielle. A Justiça no Brasil é seletiva. A Justiça é rápida para prender o pequeno traficante, o pequeno assaltante, para a ponta dessa cadeia de violência, mas é lenta para pegar grandes corruptos e para a banda podre da polícia. Não temos bandidos de estimação. Mas a Justiça no Brasil só pega os pobres, os negros e os excluídos.
Medeiros disse que, após a morte da vereadora, recebeu inclusive comentários com esse tipo de posição em suas páginas pessoais nas redes sociais. Ele afirmou ainda que o partido vem tentando encontrar estratégias para combater publicações negativas e notícias falsas divulgadas pela internet.
— Não poderíamos imaginar que esses atos viriam num momento de dor, mas já vínhamos estudando medidas pensando nas eleições. Vamos ver se conseguimos antecipar esse arsenal para conter essas manifestações absurdas.
"O PSOL também é formado por policiais"
O líder do PSOL comentou ainda as críticas recebidas por aqueles que afirmam que o partido não se posiciona da mesma forma para defender policiais que são mortos em serviço. Para o político, as acusações são infundadas.
A Marielle virou um símbolo mundial. O mundo inteiro está olhando para isso.
JULIANO MEDEIROS
Presidente do PSOL
Marielle era conhecida no meio político por denunciar casos de violência policial e se posicionava contra a intervenção federal no Rio de Janeiro.
— Essa é uma posição que tem sido instrumentalizada contra o PSOL. É absolutamente falso jogar o PSOL e quem defende os direitos humanos contra os policiais. Porque o PSOL também é formado por policiais e que defendem os direitos humanos, que defendem que os policiais ganhem melhor, que sejam melhor treinados, que integrem uma polícia com uma formação cidadã. O que não pode é ter uma visão míope e achar que só existe uma forma de ver a segurança, que é baseada na repressão e na violência. Essa visão é predominante no Brasil. É o bom e velho enxugar gelo.
Medeiros afirmou também que espera que a morte de Marielle fomente um debate mais aprofundado sobre o modelo de segurança adotado no Rio de Janeiro, atualmente sob intervenção federal, e no Brasil como um todo.
— A Marielle virou um símbolo mundial. O mundo inteiro está olhando para isso. É uma barbárie muito explícita matar uma parlamentar do jeito que ela foi assassinada. É muito chocante. Que isso ao menos sirva para colocar um debate honesto para a segurança, que não seja totalmente em vão a perda da nossa companheira.
Sobre as investigações, ele disse que tem evitado comentar o tema com a imprensa, mas informou que o partido tem acompanhado o andamento da apuração, que tem sido repassada de forma "transparente" pela polícia.