O juiz federal Sergio Moro, responsável pelo julgamento de processos da Operação Lava-Jato em primeira instância na Justiça Federal de Curitiba, comentou a polêmica envolvendo a série O Mecanismo, que estreou na sexta-feira (23) no serviço de streaming Netflix e retrata o trabalho da força-tarefa. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Moro disse que assistiu tanto à série quanto ao filme Polícia Federal – A lei é para todos, que também tem a Lava-Jato como enredo, e afirmou que, embora sejam obras de ficção e não um reflexo fiel dos fatos, as duas obras "cumprem um importante papel" de informar a população sobre o combate à corrupção.
— Eu não sou um crítico qualificado de cinema ou de televisão. O meu gosto provavelmente é um gosto mais rasteiro, não posso fazer uma crítica especializada. Mas eu sou uma pessoa curiosa, eu vi tanto o filme quanto a série. Eu acho que os dois produtos têm as suas qualidades. Ambos são cineastas, produtores qualificados. Agora, existe uma série de liberdades criativas que são tomadas. Nem a série, nem o filme retratam a realidade exatamente como aconteceu. Agora existem muitos pontos comuns. Existem realmente situações que são retratadas tanto no filme quanto na série que conferem com aquilo que apareceu na realidade — afirmou Moro, ao ser questionado pelo jornalista Sérgio D'Ávila.
O juiz disse que tais produções não devem ser levadas como "reconstrução histórica", já que "é muito difícil fazer uma obra fiel aos fatos como aconteceram", mas têm o mérito de informar a população sobre o problema da corrupção no Brasil.
— É importante para informar. De fato, o que ambos (série e filme) revelam é que a corrupção é um problema muito grave entre nós. E que, por outro lado, há uma dificuldade institucional do enfrentamento desse problema. Se esta série, se este filme, além do seu valor cultural e artístico, servirem também para chamar a atenção das pessoas para esses problemas, eu acho que elas já fazem um grande papel, um importante papel.
A série, dirigida por José Padilha, vem enfrentando críticas de partidos da esquerda por não reproduzir fielmente os acontecimentos e a cronologia da Operação Lava-Jato. Uma das principais vozes contrárias à obra é a ex-presidente Dilma Rousseff, que divulgou uma nota por meio de redes sociais no domingo (25) na qual acusa a série de ser "mentirosa e dissimulada" e de "produzir fake news".
Se esta série, se este filme, além do seu valor cultural e artístico, servirem também para chamar a atenção das pessoas para esses problemas, eu acho que elas já fazem um grande papel.
No trecho mais polêmico de O Mecanismo, a frase do senador Romero Jucá (PMDB) sobre ser preciso fazer um grande acordo nacional para "estancar a sangria" da Lava-Jato é atribuída ao personagem João Higino, baseado no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Sem citar a polêmica, Moro afirmou que a série tem liberdades artísticas e que o debate sobre a precisão dos detalhes é irrelevante.
— Não dá para ficar se preocupando muito somente com essas questões de detalhes, se conferem, se não conferem. Realmente, em algumas coisas eu vejo na série que refletem o meu trabalho, mas não necessariamente.