Uma reportagem do O Globo traçou o caminho das fake news de maior repercussão sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros no Rio de Janeiro na noite de 14 de março. Conforme o jornal, um site de opinião política foi o responsável por ampliar a repetição de boatos sobre a parlamentar nas redes sociais. A reportagem utilizou dados do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Um link do site Ceticismo Político se destacou e foi compartilhado 360 mil vezes no Facebook até a noite de quinta-feira (22), ocupando o primeiro lugar entre as publicações que abordaram boatos sobre a ligação da vereadora com o crime organizado. Com o título "Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é 'cadáver comum'", o texto aborda uma publicação feita pela magistrada Marilia Castro Neves, que afirmou que a vereadora "estava engajada com bandidos. A publicação chama de "extrema esquerda" a mobilização para que a desembargadora fosse denunciada ao Conselho Nacional de Justiça.
A reportagem do O Globo abordou ainda as relações entre o Ceticismo Político e o Movimento Brasil Livre (MBL). O Ceticismo Político é administrado por Luciano Henrique Ayan. O MBL teria afirmado à reportagem que não é responsável por administrar o perfil de Ayan e que não o conhece. O texto do Ceticismo Político foi replicado de forma idêntica pelo MBL, um minuto após o post de Luciano Ayan. Posteriormente, a publicação do movimento, que atingiu 33 mil compartilhamentos, foi apagada.
Conforme o jornal O Globo, Ayan possui o domínio ceticismopolitico.org desde novembro de 2017. O site está registrado por uma empresa dinamarquesa. Antes, ele manteve o Ceticismo Político com outro endereço — o ceticismopolitico.com, com registro por uma empresa canadense, também usada para esconder o proprietário real do site. Ele não teria respondido aos contatos da equipe de reportagem.
Cronologia:
- Um dia após a morte de Marielle, as informações falsas começam a se espalhar pelo WhatsApp.
- Na sexta-feira (16), por volta do meio-dia, os primeiros tweets são publicados relacionando a vereadora e o traficante Marcinho VP e ao Comando Vermelho.
- Ainda na sexta-feira a desembargadora comenta uma postagem no Facebook e afirma que "Marielle não era apenas uma ‘lutadora’; ela estava engajada com bandidos!".
- Às 21h05min do mesmo dia, a colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, divulga a informação sobre o comentário da desembargadora Marilia Castro Neves, que escreveu no Facebook que a vereadora "estava engajada com bandidos". "Desembargadora diz que Marielle estava engajada com bandidos e é 'cadáver comum'", diz o título da coluna que cita o comentário de Marília.
- Às 22h23min Luciano Ayan compartilha no Facebook o texto do Ceticismo Político que cita a coluna de Mônica Bérgamo sobre a desembargadora. Com o título "Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é 'cadáver comum'", a postagem chama de "extrema esquerda" a mobilização para que a magistrada fosse denunciada ao Conselho Nacional de Justiça.
- Segundo o jornal O Globo, o MBL compartilhou em sua página no Facebook a mesma postagem do Ceticismo Político às 22h24min, um minuto depois da publicação de Luciano Ayan. Conforme a reportagem, a publicação foi apagada.