A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou, nesta terça-feira (12), que tem encaminhado à Polícia Federal todos os casos de vazamento de informações em delação premiada sobre os quais teve conhecimento. Desde que assumiu o cargo, há pouco menos de três meses, ela já encaminhou cinco casos à PF, conforme revelou o jornal O Globo.
Questionada sobre o assunto, Raquel disse que tem tratado os vazamentos com "a seriedade que a lei exige". Ela afirmou que em um dos casos chegou a determinar a interrupção das negociações de delação após um vazamento de informação.
— Eu tenho trabalhado a questão da delação premiada, como dos acordos de leniência, nos limites que a lei 12.850, no tocante ao instrumento da colaboração premiada, regula — disse.
A lei a que a procuradora-geral se refere trata de medidas de investigação de organizações criminosas e estabelece que o acordo de delação deixa de ser sigiloso apenas após o recebimento da denúncia com base nas informações prestadas pelos delatores.
Raquel Dodge considera que exceções a essa regra devem ser guardadas apenas a "situações muito excepcionais, que deverão ser analisadas pelo Ministério Público e pelo Judiciário na forma do devido processo legal".
— Comunicações, notícias de vazamento, eu tenho levado com a seriedade necessária que a lei exige e, para todos os casos que chegaram ao meu conhecimento, já determinei e requisitei a instauração da investigação adequada pela Polícia Federal — disse a procuradora-geral.
Desde que assumiu o cargo mais alto do Ministério Público Federal (MPF), Raquel não celebrou acordos de delação, mas deu andamento a tratativas em casos que já estavam em andamento. A equipe da procuradora-geral recebeu a determinação de manter as negociações em absoluto sigilo, para preservar provas e evitar nulidades durante todo o processo.
A PGR não confirma quais casos foram encaminhados para a PF realizar investigações em decorrência de vazamentos.
A suspensão de uma tratativa para delação em razão de vazamento já ocorreu na gestão do antecessor de Raquel, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Em 2016, ele determinou a suspensão das tratativas com executivos da OAS depois que a revista Veja revelou o que seria um dos objetos de negociação da empresa com o Ministério Público. Depois de um período com as negociações na geladeira, os executivos da empreiteira voltaram a falar com a PGR e parte dos delatores da OAS conseguiu, ao final do mandato de Janot, celebrar acordos de colaboração.