Há pouco mais de um ano, o Ministério Público (MP) deflagrou operação semelhante à de Vera Cruz, mas com impacto ainda maior. Batizada de F5, a investigação culminou na denúncia da então prefeita eleita de Ivoti, Maria de Lourdes Bauermann (PP) – ela foi cassada neste ano, e houve nova eleição no município.
A ex-prefeita teria sido responsável por inserir informações falsas no sistema do SUS, em Taquara, de pacientes residentes em Ivoti, com o objetivo de agilizar o atendimento de pessoas em troca de votos. Com a perda do mandato, Maria de Lourdes ficou sem foro privilegiado. O caso voltou à primeira instância, na Justiça de Taquara, onde ela teria cometido a fraude. Sob sigilo, o caso não tem previsão de julgamento.
Promotor em Ivoti, Charles Emil Machado Martins abriu nova investigação para apurar a conduta da ex-prefeita nos últimos 30 anos. Neste mês, pretende oferecer a denúncia, a fim de não prescrever.
Segundo Martins, depoimentos e outros indícios apontam que Maria de Lourdes teria usado diversas estratégias para furar a fila do SUS, desde a década de 1990. Naquela época, quando a marcação era em Porto Alegre, ela supostamente aliciava pessoas para ficar na fila, guardar lugar e pegar ficha para pacientes do Interior. Nos anos 2000, quando o agendamento era por telefone, teria colocado nomes de pacientes fantasmas na fila. De acordo com a investigação, quando chegava a vez, trocava pelo nome de um apadrinhado.
– Ela foi eleita três vezes para a prefeitura de Ivoti. Foi a vereadora mais votada e a prefeita mais votada da história local. Quer dizer, o fura-fila dá muito voto. Além disso, as pessoas não costumam associar isso com corrupção. Acham que é só desvio de dinheiro. Só que isso pode acabar com vidas – afirma Martins.
Conforme o promotor, na última audiência, Maria de Lourdes usou do direito de permanecer em silêncio. Anteriormente, havia alegado que “ajudava as pessoas”.
Contraponto
O que diz Maria de Lourdes Bauermann
A defesa da ex-prefeita de Ivoti não respondeu à reportagem.