A dona de casa Dulce Terezinha Stertz, 66 anos, caminha olhando para o chão. Quando questionada por amigos se está cabisbaixa ou não quer cumprimentá-los, é enfática:
– Não posso arriscar cair ou sequer resvalar.
Há seis anos, ao entrar em um ônibus, a então faxineira de Vera Cruz virou o pé, o que lhe causou problema no joelho direito. Ela mostra o resultado da ressonância magnética – realizada na rede particular –, que diz: “Ruptura radial completa do corno posterior do menisco medial”. Dulce precisa de cirurgia. Desde então, parou de fazer faxinas e sente dores fortes na hora de dormir:
– Dói tanto para esticar que prefiro ficar sentada ou de pé.
Dulce recorda que, há dois anos, recebeu ligação da Secretaria Municipal de Saúde querendo saber se já havia feito a cirurgia. Diante da resposta negativa, foi questionada se queria continuar na fila do SUS. Confirmou que sim. Apesar das dores e da demora, a dona de casa está otimista:
– Acredito que ainda vou conseguir fazer a operação que preciso. Não perco a esperança, porque é isso que me mantém de pé.
Dulce pode ser chamada pelo Ministério Público a depor. As investigações devem levar dois meses para serem concluídas. De julho até novembro, a apuração mostrou que entre 30 e 40 pessoas foram beneficiadas ao passar à frente de outros pacientes na fila do SUS. Já o número de prejudicados o MP não consegue calcular.
– Vera Cruz é uma cidade pequena, mas qualquer fraude na saúde é grande. E descobrirmos fura-fila aqui prova que a corrupção está espraiada – diz a promotora do município, Maria Fernanda Cassol Moreira.