O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou, na quarta-feira (8), que o "roteiro de delação" escrito por Marcello Miller para a JBS apenas reforça que a PGR não tinha conhecimento sobre a suposta atuação dupla do ex-procurador. Janot ainda disse que o vazamento do e-mail de Miller (divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo) seria uma "clara orquestração" da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS para incriminá-lo. Ele se defendeu durante palestra no Tribunal de Contas de Mato Grosso, em Cuiabá, e em mensagens publicadas em sua conta pessoal no Twitter.
"O fato de o presidente da República ter sido acusado da prática de mais de um crime, no exercício da Presidência, não é notícia. A notícia é que um dos 'braços direitos do procurador' instruiu a JBS a se comportar desta ou daquela maneira", afirmou Janot em mensagem publicada nesta quinta-feira (9).
O ex-procurador-geral destacou que, ao vir à tona um guia no qual Miller alertava sobre empecilhos que seriam colocados por seus colegas da Procuradoria, ficou ainda mais claro que ele agiu sozinho para beneficiar os irmãos Batista. O material vazado pela CPI mista que investiga as irregularidades na delação também inclui uma possível proposta de honorários feita por Miller a delatores — não está claro se o caso seria o da JBS. Pelo texto, o ex-procurador receberia até R$ 15 milhões por fornecer informações privilegiadas de dentro do Ministério Público Federal (MPF).
O grupo J&F começou a negociar o acordo de leniência em março, e Marcello Miller atuou como procurador da República até abril deste ano, quando deixou o MPF para integrar um escritório de advocacia que chegou a defender os empresários.
A revelação sobre a possível atuação dupla do ex-procurador levou Rodrigo Janot, então titular da PGR, a rescindir os acordos de leniência e os benefícios dos quais a JBS poderia usufruir pelas delações. Ele também encaminhou pedido de prisão de Miller, que foi negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta semana, a CPI da JBS convocou o ex-chefe de gabinete de Janot Eduardo Pelella para depor, iniciativa que o ex-procurador-geral também sugere fazer parte da tentativa de senadores e deputados de incriminá-lo no caso.