O corretor Lúcio Bolonha Funaro afirmou em audiência na Justiça Federal, em Brasília, nesta terça-feira, 21, que tinha "receio" da reação do primeiro escalão do governo do presidente Michel Temer caso desconfiassem que ele negociava um acordo de colaboração premiada. A afirmação do agora delator foi em depoimento como testemunha de acusação na audiência no âmbito da ação penal em que o ex-ministro Geddel Vieira Lima é réu por obstrução de Justiça. Os dois ficaram frente a frente pela primeira vez desde que Funaro assinou acordou de colaboração e apontou o ex-ministro como destinatário de propina.
Na audiência, o juiz Alexandre Vidigal de Oliveira, que substitui o titular Vallisney de Souza Oliveira, ouviu, além de Funaro, sua mulher Raquel Pitta e sua irmã Roberta Funaro.
Nesta ação, o Ministério Público Federal sustenta que, após a prisão de Funaro, o ex-ministro monitorou e constrangeu a mulher do corretor, Raquel Pitta, com a intenção de "influenciá-lo" a não colaborar com as investigações referentes às operações Cui Bono e Sépsis, que tratam de desvios na Caixa.
Durante a audiência, questionado sobre se tinha receio das seguidas ligações de Geddel para sua mulher, Funaro disse não ter esse sentimento sobre Geddel, mas por causa dos integrantes do primeiro escalão do governo.
"Receio dele, pessoalmente, não tinha nenhum, mas como era membro do primeiro escalão do governo, eu tinha receio do que o resto do primeiro escalão pudesse fazer. Por exemplo, foi imputada a mim a entrega de R$ 4 milhões ao senhor José Yunes. E eu nunca entreguei R$ 4 milhões. Na verdade, eu recebi dele R$ 1 milhão para entregar ao senhor Geddel. Só para deixar claro o que aconteceu", afirmou.
Funaro disse ainda ter ficado "assustado" quando surgiram as divergências entre o amigo e ex-assessor de Temer, José Yunes, e o ministro Eliseu Padilha. O embate entre os dois se deu após Yunes dizer que recebeu um envelope de Funaro a pedido de Padilha.
"Porque vi que dentro do próprio governo não havia uma linha para resolver os assuntos que estavam pendentes. O melhor amigo do presidente atacando outro que era muito amigo do presidente. Aí fiquei muito preocupado, porque o fato não era comigo. O fato me envolvia, mas não envolvia da maneira que estava sendo narrada. Aí fiquei preocupado", disse o delator.
Histórico
Segundo o MPF, Geddel, que antes não mantinha contato com a mulher de Funaro, teria passado a fazer insistentes ligações para ela, especialmente nas sextas-feiras, dia em que visitava o marido na prisão. Muitas vezes, os telefonemas eram no período da noite, a propósito de perguntar sobre o "estado de ânimo" de Funaro. Para a Procuradoria da República no Distrito Federal, Geddel buscava intimidar indiretamente o corretor e impedir ou retardar a sua colaboração.