As declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre supostas vinculações da cúpula da Segurança do Rio com o crime organizado, se transformaram em nova crise para o presidente Michel Temer, que retornou a Brasília após passar por cirurgia no fim de semana em São Paulo. Políticos fluminenses cobram resposta do Planalto. Um dos principais críticos é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que projeta comissão na Casa para tratar do caso.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), encaminhou interpelação judicial ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra Torquato. O objetivo é que o ministro revele as informações que diz ter contra os chefes da Polícia Militar (PM) fluminense, especialmente responsáveis por batalhões e o comandante-geral, coronel Wolney Dias.
"O Estado do Rio de Janeiro requer a V. Exa. se digne (...) a declinar os nomes dos agentes públicos que praticaram crimes ou que concorreram a sua prática, juntando documentos que atestem e comprovem a veracidade das informações, tudo de modo a possibilitar a adoção das medidas administrativas e judiciais cabíveis", diz trecho do documento encaminhado à presidente do STF, Cármen Lúcia.
— A interpelação é para que o Estado possa tomar providências contra esses desvios, como já estamos realizando em diversos casos — explicou Pezão.
Em Israel, onde participa de missão oficial da Câmara, Maia declarou à repórter Andreia Sadi, da GloboNews, que está "perplexo" e aguarda "provas" do ministro sobre as acusações. Para o presidente da Câmara, o silêncio de Temer amplia a crise na qual se encontra o Rio, não somente na área da segurança, mas também no aspecto financeiro. O governo fluminense está com salários atrasados e assinou recentemente acordo para receber auxílio da União.
— Quero saber quais os próximos passos do governo em relação ao Rio. Não acho que o governo federal tenha as condições de fazer uma intervenção no Rio hoje — disse Maia a O Globo.
Também houve repercussão entre os deputados estaduais do Rio. O presidente da Assembleia fluminense, Jorge Picciani (PMDB), afirmou que há mais de uma década não existe interferência do crime organizado na segurança.
Na terça-feira, em entrevista ao portal UOL, Torquato disse que o comando de batalhões da Polícia Militar do Rio seria resultado de "acertos" com o crime organizado, suspeita reafirmada ao jornal O Globo. Nesta quarta-feira, ao ser questionado por repórteres ao chegar para atividade no STF, o ministro manteve o que declarou e classificou como "normais" as reações contrárias.
O governo do Rio reuniu oficiais no Palácio Guanabara na tarde desta quarta-feira para discutir as declarações do ministro. Após o encontro, o secretário de Segurança, Roberto Sá, disse que a escolha de Dias, um coronel já reformado, para comandar a PM, foi indicação sua, aceita por Pezão devido à conduta irreparável do militar e à experiência acumulada em mais de 30 anos de carreira, tendo ocupado diversos cargos na cúpula da corporação.