Diante da mais aguda rebelião da base aliada desde o início de sua gestão, o presidente Michel Temer decidiu antecipar a reforma ministerial que pretendia fazer em abril de 2018. O anúncio não foi suficiente para conter a voracidade do centrão por mais cargos. O grupo fisiológico ameaça boicotar as votações na Câmara caso o PSDB não seja expurgado o quanto antes da Esplanada.
Com mais de 200 deputados espalhados por 12 partidos, o centrão não aceita a presença dos tucanos em postos estratégicos, sobretudo no Ministério das Cidades. Com verbas bilionárias para investimentos em infraestrutura urbana, a pasta é cobiçada por causa da capilaridade orçamentária e da visibilidade política que confere ao titular, especialmente às vésperas de eleições. Atualmente, o cargo é ocupado pelo tucano Bruno Araújo (PE), alvo da chantagem.
– Eles (deputados do centrão) estão com a faca no pescoço do governo. E querem o ministério agora, não apenas em janeiro – afirma um dos interlocutores do centrão.
A ameaça a Temer foi explicitada na quarta-feira (8) pelo líder do PP, deputado Arthur Lira (AL). À frente de uma bancada com 45 parlamentares, foi taxativo ao vocalizar os anseios de colegas de outros partidos como PTB, PSD e PR:
– Ou muda (o ministério) ou não vota mais nada aqui (na Câmara).
Temer ainda não definiu data para a reforma ministerial. A princípio, o presidente cogitou fazer as mudanças em janeiro, antecipando em três meses a saída dos ministros que pretendem concorrer nas eleições de 2018. Com a resistência do centrão e a indefinição do PSDB, que não sabe se fica ou sai do governo, o presidente já estuda substituir os tucanos ainda neste ano.
Pesa na decisão também o escasso tempo que os novos ministros teriam à frente das pastas caso a reforma fosse feita em janeiro. A maioria dos parlamentares que postulam assento na Esplanada irá se candidatar no ano que vem e, para tanto, teriam de cumprir a descompatibilização compulsória determinada pela lei eleitoral a partir de abril, três meses após a posse.
– Não adianta assumir em janeiro e sair em abril. Não dá tempo de fazer nada – admite um deputado do grupo.
Nesta quinta-feira (9), em solenidade realizada no Palácio do Planalto, Temer disse que a reforma é "inevitável":
– É algo que, toda vez que você governa, está sempre em cogitação. Saberei o momento certo.