O juiz federal Sergio Moro afirmou que a sociedade tem de refletir sobre o foro privilegiado, não somente por causa da Lava-Jato.
— Essa questão transcende a Lava-Jato — disse.
Segundo ele, a sociedade tem de analisar se o instrumento está funcionando ou não e, se não, se deve ser mudado.
— Nenhuma instituição é perene — afirmou o magistrado durante debate Fórum Estadão Mãos Limpas & Lava-Jato, organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo em parceria com o Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP).
Moro comentou que, dentro do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por julgar políticos com foro, deve haver até certa frustração, porque o tribunal é destinado a discutir questões constitucionais. Assim, reforçou que é preciso pensar em revisar esses institutos.
— É um desvirtuamento o STF ter de se preocupar com questões concretas. A função do Supremo é discutir questões constitucionais e não ficar se debruçando sobre questões concretas. Imagino a frustração de um ministro, querendo decidir questões para toda a sociedade e em vez disso ter de ficar discutindo busca e apreensão — assinalou Moro.
Democracia
O juiz defendeu o aprofundamento da democracia no Brasil, especialmente em um momento em que há pessoas "favorecendo soluções autoritárias".
— Existe frustração com a democracia, não só no Brasil. Há quem favoreça soluções autoritárias. É necessário o aprofundamento da democracia — ponderou Moro, ressaltando que esses processos de corrupção só foram possíveis dentro de ambiente de liberdade, incluindo a de imprensa e entre os três poderes.
— O poder judiciário tem que funcionar para todos — destacou o juiz, complementando:
— Da parte do judiciário, vamos continuar fazendo nosso trabalho.
As eleições de 2018, ressaltou Moro, não podem afetar o trabalho dele como juiz.
— Não se pode prescindir em uma democracia dos políticos e há bons políticos. Sempre vou atuar em meus processos na perspectiva do juiz, com base nas provas e nas leis. O que acontece fora das cortes de justiça não é minha responsabilidade. — pontuou Moro.
Perguntado sobre as eleições de 2018, Moro evitou fazer comentários e ressaltou que, em uma democracia, se espera que as pessoas façam boas escolhas.