As três polêmicas nas quais Wladimir Costa (SD-PA) se envolveu na última semana – tatuar o nome de Temer no ombro, pedir uma nude por WhatsApp e ser acusado de assédio sexual – não são as únicas de sua carreira. Ao longo de quatro legislaturas como deputado federal, ele já teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará (o processo aguarda decisão do TSE), estourou confetes na votação do impeachment de Dilma Rousseff e cunhou a expressão "Temerhofóbicos".
Aos 53 anos – mas "com tesão de 20", como já declarou –, o deputado é orgulhoso de ser natural de Belém do Pará. Na votação da Câmara que aprovou o impeachment de Dilma Rousseff, Costa apareceu enrolado na bandeira do Estado, dedicou o voto "à mãezinha" "ao (rio) Tapajós amado" e "aos filhos", conclamou os colegas a colocar a "mão para cima" e estourou um lança-confete no plenário.
Dos quatro mandatos como deputado, os três primeiros foram pelo PMDB. Após desentender-se com o partido, Costa migrou em 2013 para o Solidariedade, legenda pela qual foi eleito em 2014. Seus carros de campanha vociferavam o slogan "o federal do povão", tocado em um tecnobrega típico da região.
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Antes de ir a Brasília, Costa não teve uma vida fácil. Conforme sua biografia no site do Solidariedade, o parlamentar tem origem humilde. Ainda criança trabalhava vendendo pasta de dente no mercado Ver-O-Peso, em Belém. Anos mais tarde, ao lado de seu irmão, virou vendedor de batata, cebola e alho em mercadinhos na periferia da cidade.
Em 1986, iniciou a carreira como locutor de rádio, virou apresentador de TV e, posteriormente, cantor de uma banda. A fama o alçou de forma meteórica à Câmara Federal, em 2002. A partir daquele ano, "Wlad", como gosta de ser chamado, se envolveria em um inúmeras polêmicas.
Denúncias
Em 2016, o parlamentar foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) paraense de desviar recursos de campanha (caixa dois), falsificar documentos e não declarar R$ 410,8 mil em arrecadações. Seu mandato foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará e, após recurso, o caso está em análise no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O procurador-regional eleitoral do Estado, Bruno Valente, responsável pela acusação, disse à época que Wladimir Costa mostrou um "total desprezo com a demonstração de regularidade, uma vez que foram identificadas despesas não contabilizadas e, consequentemente, sem comprovação da origem dos recursos".
O mesmo procurador também acusou o deputado, em 2010, de comprar votos de eleitores oferecendo cursos de informática. O esquema teria a ajuda do irmão, Wlaudecir Antônio da Costa Rabelo.
Aliás, Wlad está sendo julgado ao lado do seu irmão em outro processo. Desde 2010, ambos são réus no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente fazerem parte de um esquema no qual ficavam com os salários pagos pela Câmara a funcionários fantasmas. Os "laranjas" supostamente iam à Caixa Econômica Federal sacar o valor pago e o repassavam a Costa. Na sexta-feira passada (28), nas alegações finais encaminhadas ao STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reforçou o entendimento de que o Ministério Público Federal considera o deputado culpado.
O parlamentar também é acusado de participar de um esquema de desvio de recursos públicos por meio de um convênio fechado entre uma ONG sua e a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel) do Pará. Segundo o jornal Diário do Pará, a pasta fica sob a influência política de Costa.
Dentro da Câmara, foi alvo de mais de uma ação por quebra de decoro parlamentar – em uma delas, movida pelo PT em 2016, ele declarou que a legenda é um "partido da vergonha" e sustentou que "99,99% dos petistas são bandidos da pior periculosidade".
Atuação pouco marcante na Câmara
Sua performance na política é pouco marcante. Costa é titular em três comissões consideradas de menor relevância na Câmara: a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; a Comissão que discute a PEC–159, que destina os recursos arrecadados com a Cide (imposto sobre combustíveis) para reduzir impactos ambientais gerados pelo uso de gasolina, diesel e etanol; e a Comissão que discute a PEC–518 , sobre a estabilidade de servidores públicos celetistas.
O parlamentar não é dos mais assíduos. No mandato atual, de um total de 282 sessões deliberativas de 1º de janeiro 2015 até esta quinta-feira (3), Costa esteve presente em apenas 109 (38,7%). Ausências justificadas totalizam 123 (43,6%) e não justificadas, 49 (17,4%).
Nos oito meses deste ano, não há nenhum projeto de lei ou outras proposições apresentados à Câmara. Alguns dos mais marcantes em anos anteriores foram a proposta, em 2009, para que 29 de abril seja o Dia Nacional do Professor de Dança, a realização de um plebiscito para votar a anexação do Amapá ao Pará, em 2004, e a proposta de redução para 16 anos da idade mínima para a obtenção da carteira de motorista, em 2011.
Deputado "brigão"
O comportamento de Costa também é conflituoso. Ele mesmo já disse que "não foge do pau e é brigão mesmo". Em discurso antes da votação da denúncia contra Temer por corrupção passiva nesta quarta-feira (2), Wladimir Costa cunhou o termo "Temerhofóbicos", para falar da oposição que critica o presidente.
– Esses deputados "Temerhofóbicos" passam quatro anos de seus mandatos gritando, esbravejando, berrando que nem bezerros desmamados. Conhecem como ninguém a arte da mentira. Mas, afinal, o que fazem eles além de esbravejar? Eu digo, nada. Literalmente nada – disse no plenário.
No mesmo discurso, o parlamentar também criou uma palavra para abarcar os simpatizantes do presidente que não se manifestam para não contrariar o partido: os "Temerenrustidos".
– (Eles) Aplaudem o Temer, mas ficam um pouco mais tímidos aqui, porque estão a serviço do partido.
Ainda no mês passado, Costa chamou um grupo de artistas de "vagabundos da Lei Rouanet" e prometeu lançar campanha para que Lobão seja o novo ministro da Cultura.
Também em julho, na votação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para elaborar o parecer sobre a denúncia acerca de Michel Temer, Costa chamou Sergio Zveiter (PMDB-RJ) de "burro". O peemedebista, apesar de ser correligionário do presidente, produziu relatório pedindo o avanço das investigações contra Temer, defendido com unhas e dentes pelo deputado paraense.
– Burro, incompetente e mal-intencionado. Qualquer estudante de Direito sabe que ele errou naquele relatório – afirmou Costa, que também disse que a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) usaria "calcinha de plástico".
Anteriormente parte da "tropa de choque" do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, Wlad defendeu o então amigo em debate na elaboração do relatório do Conselho de Ética contra o peemedebista, em junho do ano passado. O maior atrito foi contra o petista Zé Geraldo, também paraense.
A discussão começou quando Zé Geraldo mencionou as denúncias contra Costa por desviar salários de assessores fantasmas e pelas supostas irregularidades no recebimento de recursos de uma ONG.
– O deputado Wladimir, nem se lavar a boca com soda cáustica durante uma semana, ainda ele não pode falar mal do PT e da presidente Dilma. Esse parlamentar no Pará está mais sujo que pau de galinheiro – disse Zé Geraldo (PT-PA).
Costa não deixou por isso e chamou o colega também paraense de "vagabundo", "bandido" e "ladrão safado".
Já no momento decisivo da votação do parecer favorável à cassação do mandato de Cunha, alguns dias depois, Wlad surpreendeu a todos ao votar contra o ex-presidente da Casa, em momento no qual o resultado já estava selado contra Cunha.