Há um ano, integrantes da Corregedoria da Caixa Econômica Federal em Brasília apreenderam o notebook de um funcionário da Vice-Presidência de Pessoa Jurídica com registros datados de 2012. Entre 2011 e 2013, o vice-presidente de Pessoa Jurídica era Geddel Vieira Lima (PMDB), ex-ministro e homem próximo de Michel Temer. Havia nos arquivos uma planilha, que ganhou a chancela "sigilosa", contendo a lista das empresas que solicitavam empréstimos ao banco público, com os valores das operações e o status do negócio. E, em outra coluna, a identificação "contatos externos". Ali, políticos de PMDB, PT e PSC estavam relacionados às operações, que deveriam ser técnicas. As informações são da Revista Época desta semana, que salienta: àquela altura, a operação Lava-Jato ainda não desbaratara o esquema de achaque a empresas interessadas em recursos do banco.
De acordo com investigadores da Lava-Jato, é possível que o esquema fosse tocado por Geddel, pelo ex-deputado Eduardo Cunha e por seu operador Lúcio Funaro – os dois últimos, padrinhos de Fábio Cleto, que ocupava a Vice-Presidência de Loterias na Caixa no mesmo período.
Auditores do banco anotaram em um relatório sigiloso, obtido pela revista:
"Conforme se denota do documento ora anexado, o empregado possuía em seus arquivos uma lista com as seguintes informações: Cliente/Contato Externo/Operação/Status. Na referida planilha, no campo contato externo figuram políticos influentes". (...) "Dos políticos citados na planilha, há um deputado preso por fraudes licitatórias, e outro formalmente indiciado por envolvimento na operação Lava-Jato".
O deputado investigado na Lava-Jato é Marco Maia (PT-RS), alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF). Na linha que anota um pleito da CCB e Rio Corrente PCH, do grupo goiano Construtora Central do Brasil, identificada como operação "35 MM + 35 MM", o servidor anotou o nome de Marco Maia, ex-presidente da Câmara. A empresa afirma que buscou, mas não conseguiu o empréstimo na Caixa. A CCB nega contatos com o parlamentar gaúcho. Maia disse à Época que nunca ouviu falar das empresas do Grupo CCB, não conhece ninguém da companhia e que não procurou Geddel para tratar de demandas na Caixa. Em relação à tentativa de obter empréstimo de R$ 70 milhões, como a planilha sugere, a companhia goiana enfatiza que "nenhum de seus representantes conhece ou manteve algum tipo de contato com o deputado Marco Maia em época alguma".
O registro formal em documento arquivado de "padrinhos políticos" nas operações de crédito, de acordo com auditores da Caixa, era um ineditismo criado na gestão Geddel, hoje em prisão domiciliar.