Um dia após usar a votação da reforma da Previdência e da agenda econômica do governo na Câmara como forma de pressão, partidos do Centrão – grupo de legendas que são aliadas de Michel Temer – ameaçaram não barrar uma eventual segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente.
O grupo quer ter controle dos cargos da administração federal que estão nas mãos dos chamados "infiéis" – parlamentares aliados, mas que votaram contra Temer na primeira denúncia por corrupção passiva.
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Lideranças de PP e PSD, os dois maiores partidos do Centrão, dizem que será muito difícil "segurar" suas bancadas caso o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente uma segunda denúncia contra Temer no atual cenário de "desorganização" da base.
Janot deixará o cargo em 17 de setembro e, nos bastidores, procuradores e parlamentares dão como certo que, antes de sair, ele apresentará denúncia por obstrução da Justiça contra o presidente, com base na delação de executivos da JBS.
A principal crítica do Centrão é ao PSDB, legenda que comanda quatro ministérios, mas que saiu dividida da votação da primeira denúncia na Câmara. PSD e PMDB, por exemplo, reivindicam a pasta das Cidades, comandado pelos tucanos.
O líder do PSD na Câmara, Marcos Montes (MG), avalia que uma eventual segunda denúncia da PGR, no atual momento, pode ser "perigosa" para Temer.
– Votamos pela permanência dele para não ter uma turbulência política que contaminasse a retomada do desenvolvimento econômico. (...) Agora ele tem que dar um freio de arrumação. Se não der, essa desorganização política volta e o mercado vai embora. Não adianta ele ficar e continuar com a desordem política – afirmou Montes.
Na avaliação do deputado mineiro, cabe ao governo evitar o "tumulto" político.
– É isso que precisa ficar claro. É cargo que faz ter essa calmaria política, se for, resolva o problema dos cargos. Não, são as emendas impositivas. Resolva as emendas impositivas – disse.
O líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), diz que o governo não pode continuar dando as mesmas "regalias" a fiéis e infiéis. Ele diz que as críticas são generalizadas.
– Pode ser mortal. Se chegar (uma segunda denúncia) num cenário desses, é o fim da linha para o presidente. O governo não se comunica, não se articula, não conversa, não prestigia. Não dá para estar na mesma base quem vota contra e quem vota a favor, com as mesmas regalias, sejam ela grandes ou pequenas – afirmou Lira.
Votação da Reforma da Previdência deve ficar para depois
Na quinta-feira (10), líderes do Centrão avisaram a Temer que não pretendem votar a reforma da Previdência no plenário da Câmara até que o governo reorganize a base aliada.
Nos bastidores, integrantes do grupo se dizem dispostos até a paralisar ou derrotar toda a agenda econômica que tramita no Congresso. O primeiro alvo seria a medida provisória que cria o Refis, programa de parcelamento de dívidas de contribuintes com o Fisco com o qual o governo espera aprovar para obter mais recursos ainda neste ano.
A estratégia será ignorar a negociação que o governo vem tentando fazer e trabalhar para aprovar o texto do relator, deputado Newton Cardoso Júnior, (PMDB-MG), considerado mais benéfico para as empresas. O deputado modificou a versão enviada pelo governo ao Congresso e, com isso, a previsão de arrecadação caiu de R$ 13 bilhões para R$ 420 milhões com o programa.