Afastado das funções de vice-presidente do Equador desde a quinta-feira (3) por meio de decreto presidencial, Jorge Glas teria recebido pelo menos US$ 14,1 milhões em propina da Odebrecht entre 2012 e 2016, de acordo com depoimento do ex-diretor da empreiteira no país, José Conceição Filho. O delator afirma que os recursos foram pagos para favorecer a empresa brasileira em contratos com o governo equatoriano.
O depoimento de Conceição ainda está sob segredo de Justiça e foi obtido pelo jornal O Globo. O colaborador disse aos procuradores da Lava-Jato que negociou o suborno diretamente com o Glas e com um intermediário, Ricardo Rivera, que é tio do vice-presidente.
Uma reunião com Glas teria ocorrido, em 2014, na sede da Vice-Presidência. O político teria solicitado ao executivo da Odebrecht o repasse de dinheiro para custeio da sua campanha. A empreiteira, no entanto, não teria feito o pagamento.
– Afirmei a Jorge Glas que já realizava pagamentos a Ricardo Rivera. Em resposta, Jorge Glas confirmou que estava ciente desses pagamentos, mas que essa contribuição seria uma nova demanda – disse Conceição, conforme O Globo.
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O contato entre Glas o executivo da Odebrecht teria iniciado em 2011, quando o político era ministro dos Setores Estratégicos, área responsável pelos setores de petróleo, energia e projetos hídricos no Equador. Na época, Conceição foi procurado por Rivera para uma reunião sobre "assuntos de interesse" da empreiteira.
O tio do então ministro equatoriano teria afirmado que a Odebrecht seria obrigada a pagar 1% sobre contratos que obtivesse junto ao governo do país. Depois, o percentual teria subido para até 1,3%, conforme o delator. De acordo com o jornal, o delator gravou as conversas que teve com Glas e Rivera.
A negociação com governo teria permitido à Odebrecht obter contratos milionários no país, com obras como a Hidrelétrica Manduriaco e o projeto de irrigação Trasvase Daule Vinces.
Glas se tornou vice-presidente da República em 2013, ao lado do então presidente Rafael Correa. Em 2016, ele foi reeleito para o mesmo cargo junto a Lenín Moreno.