O deputado Wladimir Costa (SD-PA) está envolvido em mais uma polêmica. Após realizar uma tatuagem no braço com o nome do presidente Michel Temer, apontada como de henna por especialistas, e pedir nudes para uma mulher no WhatsApp, agora está envolvido em um suposto caso de assédio contra uma repórter de Brasília que tentava entrevistá-lo na terça-feira (1º). Entidades que representam a categoria classificaram a situação com assédio sexual.
A acusação foi feita pela repórter da rádio CBN em Brasília, Basilia Rodrigues, 29 anos, em um post no Facebook publicado na quarta-feira (2). Conforme o relato, a jornalista aguardava o término de uma reunião entre Wladimir Costa, Temer e outros deputados na casa de Fábio Ramalho (PMDB-MG), e Costa se portou de maneira inadequada após ser questionado a mostrar a tatuagem.
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Nesta sexta-feira (4), em entrevista a Zero Hora, Basilia afirmou que pediu, no fim do encontro entre os políticos, que o parlamentar do Solidariedade mostrasse o desenho feito em homenagem a Temer e que é apontado por vários tatuadores consultados pela imprensa como de henna, e não permanente. Desde a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre o assunto, publicada no último segunda–feira (31), Costa não exibiu mais a tatuagem.
– Quando o deputado saiu do jantar, por volta de 23h, ele foi abordado sobre a tatuagem. Ele falou que outros deputados estavam interessados em fazer uma tatuagem também, que mostrou a tatuagem para o Temer e o presidente gostou, mas teria dito que só a Marcela não gostou porque ficou mais bonita que a dela (a primeira-dama possui uma tatuagem na nuca com o nome de Temer). No meio das perguntas ao deputado, perguntei "o senhor pode mostrar a tatuagem novamente?". Ele disse, olhando diretamente para mim, "Pra você, só se for de corpo inteiro" – disse a repórter da CBN.
Após esse primeiro desconforto, Basilia disse que foi atrás do deputado e voltou a pedir que ele mostrasse a tatuagem, pedindo respeito por ela ser repórter e mulher. No entanto, ela disse que recebeu outra resposta inconveniente: "Eu tenho várias tatuagens no corpo inteiro, amor". Na terceira investida, o deputado levantou o dedo na altura da boca e mexeu os lábios em um "não" proferido sem voz.
A profissional da imprensa salientou que gravou a fala de Costa e que cinegrafistas presentes no local também registraram o momento. Antes de publicar o post no Facebook, ela disse que escutou o áudio novamente para ter certeza sobre as palavras do parlamentar. A jornalista afirmou que considera a postura "machista e repugnante" e que o parlamentar encara esse gesto como uma brincadeira. Basilia destacou que é uma jornalista com 10 anos de carreira e não quer ser lembrada pela "atitude machista de um deputado qualquer":
– Não quero que esse meu manifesto seja visto como uma vitimização. Tenho 10 anos de jornalismo, focado em coberturas políticas e do Judiciário. Quero ser lembrada por isso.
Basilia disse que vem recebendo diversas mensagens de apoio e solidariedade após o episódio de terça-feira (1º). Ela espera que sua atitude possa incentivar outras mulheres a expor casos machistas. A repórter afirma que o deputado só adotou aquela postura pelo fato dela ser mulher:
– Conversando com outras colegas, cheguei a uma conclusão: ele não me respondeu daquela maneira porque sou uma jornalista, mas sim por eu ser mulher.
Basilia não quis falar sobre eventuais processos contra o deputado. A profissional destacou que a repercussão negativa do caso em relação ao parlamentar é uma forma de "punir o ego" de Costa.
Apoio da categoria
Entidades que representam jornalistas rechaçaram a atitude de Wladimir Costa e a classificaram como "assédio sexual e moral".
"Mesmo diante de um período questionável, do ponto de vista dos direitos e representações, faz-se necessário que situações como esta sejam expostas e veementemente combatidas. O teatro criado tendo personagens políticos bizarros como protagonistas não podem ultrapassar os limites mínimos para uma relação respeitosa, entre políticos e profissionais da imprensa", diz o texto assinado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), pelo Coletivo de Mulheres da entidade e pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do DF (Cojira-DF).
"As mulheres jornalistas, em especial as negras, já estão submetidas a uma série de desigualdade e violências, dentro e fora das redações, que demandam de toda a sociedade atenção redobrada, ainda mais quando se trata de uma cobertura política de interesse público. Solidarizamo-nos à jornalista, que tem uma atuação destacada na cobertura política em Brasília, e nos colocamos à disposição para dar suporte jurídico, caso ela assim o queira", finaliza o texto.
A reportagem de ZH entrou em contato com o gabinete do deputado Wladimir Costa às 8h36min, mas não foi atendido até a publicação dessa matéria.
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CONTRAPONTO
O que diz o deputado Wladimir Costa (SD-PA):
O parlamentar confirmou que disse para a jornalista que mostraria a tatuagem só se fosse de corpo inteiro, mas que proferiu a frase "sem cunho racista, sexual ou algo parecido". Costa destacou que tem seis tatuagens e que mostrar o corpo inteiro não quer dizer nu:
– Afirmo que falei que mostro só se for o corpo inteiro, o que é muito natural. O fato de dizer o corpo inteiro não quer dizer nu. Ela pode representar (ação judicial), e eu sou muito tranquilo para responder perante à Justiça – disse o deputado.
Entenda as polêmicas
Wladimir Costa começou a se envolver em polêmicas após uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, veiculada na última segunda–feira (31), apontar que o deputado havia feito uma tatuagem com o nome do presidente e uma bandeira do Brasil.
A tatuagem teria sido feita no último dia 28 e custado R$ 1,2 mil, paga em seis parcelas no cartão. Em entrevista, o parlamentar disse que, no atual contexto político em que "tentam derrubar Temer a qualquer custo, é minha forma de mostrar que parceiro que é parceiro derrama até a última gota de sangue".
Tatuadores renomados consultados pela imprensa disseram que a tatuagem era de henna, não permanente, e que sairia facilmente após o banho. Vários detalhes do desenho foram apontados como indícios, tais como a falha na letra "r" da palavra "Temer", o acabamento da bandeira do Brasil e o próprio fato de Costa sair com a tatuagem desprotegida, sendo que havia dito que a foto fora feita logo após deixar o estúdio de tatuadores.
Desde então, Costa é incitado por repórteres a mostrar mais uma vez a tatuagem, na expectativa de confirmar se ela é feita de henna ou não.
Na quinta-feira (3), o fotógrafo Lula Marques flagrou o parlamentar em uma troca de mensagens por WhatsApp na qual pede uma nude para uma mulher durante a sessão que barrou a denúncia de corrupção passiva contra Temer. "Mostra a tua bunda afinal não são suas profissões que a destacam como mulher é sua bunda. Vai lá põe aí garota" (sic), escreveu o deputado pelo WhatsApp. Em entrevista ao UOL, ele disse que conversava com uma "profissional da imprensa".