Começou com um pedido de desculpas a entrevista do presidente temporário da Câmara dos Deputados à Rádio Gaúcha na manhã desta terça-feira (29), pouco depois de assumir o cargo. Na primeira tentativa, André Fufuca, conhecido como Fufuquinha (PP-MA), desligou o telefone. Na segunda, justificou que estava se despedindo de Michel Temer em um hangar.
– Peço desculpas, ocorreu um imprevisto – iniciou o deputado.
Questionado sobre o que o presidente da República lhe pediu antes de embarcar rumo à China, já que Fufuquinha deve liderar temas da mais alta importância para o governo Temer, como a reforma política, o maranhense despistou:
– Não houve pedido. Houve uma advertência para que possamos manter a estabilidade – disse o segundo-vice-presidente da Câmara, que comandará a Casa, a partir de hoje, por nove dias.
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A seguir, ouça e leia a entrevista ao programa Timeline:
Qual foi o pedido que o presidente fez ou que conselhos ele lhe deu, já que o senhor esta assumindo a Câmara pela primeira vez?
Não houve pedido. Houve uma advertência para que possamos manter a estabilidade. Estabilidade no Congresso, estabilidade nas votações e que o Brasil possa seguir adiante, com estabilidade, procurando o crescimento que todos os brasileiros têm interesse.
O senhor vai ficar quanto tempo como presidente da Câmara?
São nove dias.
Dá pra fazer algum estrago em nove dias...
(risos)
O senhor tem projetos pela frente, como a revisão da meta fiscal, a nova taxa de juros do BNDES e a própria reforma política, que mesmo com o presidente Rodrigo Maia estava faltando um entendimento para ser votada. O senhor tem ideia de linha de conduta para destravar essas questões?
Temos a pretensão de colocar hoje para serem votados os três últimos destaques da TLP (Taxa de Juro de Longo Prazo), que foi a MP 777, da semana passada. Agora pela manhã, iremos sentar com os lideres partidários e com o presidente Rodrigo Maia, para que nós possamos tentar chegar a um denominador comum em relação às duas PECs da reforma política que têm na Casa. Uma muito ampla, que precisa de um debate aprofundado, outra um pouco mais simples, mas que vem tendo um consenso maior na Casa.
Pode traduzir e explicar quais são essas PECs?
Numa (PEC 77/03) está sendo proposta criação de um fundo para as campanhas e o Distritão, no qual serão eleitos os mais votados, diferentemente do sistema eleitoral vigente hoje, que é o de proporcionalidade. E a PEC 282, que a deputada Shéridan (PSDB-RR) está brilhantemente relatando, trata sobre o fim das coligações e também a cláusula de barreira para partidos pequenos.
O senhor é um deputado novo e como se sente com relação à desconfiança da população na classe política?
É notório que a sociedade tem uma desconfiança e uma rejeição à classe politica. Há vários casos que vem pipocando nos últimos tempos, mas cabe a gente poder fazer um novo trabalho, construir uma nova história e poder se aproximar mais da população, escutando os anseios.
A segunda denúncia contra Michel Temer pode chegar nesta semana. O senhor já sabe como vai conduzir esse processo caso isso ocorra?
Em momento nenhum eu quero ser instrumento de instabilidade para o Congresso e muito menos para nossa Nação. Se a denúncia for feita no período em que eu estiver à frente da Câmara, irei respeitar rigorosamente o que diz o regimento, que, no caso, é notificar o acusado e encaminhar à Comissão de Constituição e Justiça.
Se Temer estiver na China, ele só é notificado na volta?
Eu acredito que sim. O processo legal e regimental eu irei fazer. Não haverá embaraços ou criação de novos fatos, como já houve no passado.
Essa cadeira, que já pertenceu a Eduardo Cunha, se mostrou muito poderosa no Brasil. Como o senhor se sente: é apenas mais um dia de trabalho ou o senhor sente realmente um poder?
Para mim, primeiramente, é uma honra poder representar o parlamento do meu país. Segundo, procurarei ao máximo honrar aqueles que me colocaram no cargo de segundo vice-presidente. E que o destino me colocou hoje como presidente interino da Casa. Quanto a ter poder ou não, eu irei procurar destinar a força que essa Casa tem à Nação do meu país. Então, vejo isso como obrigação de trabalho e uma obrigação ainda maior que é poder representar bem a confiança tanto da população que me colocou no Parlamento quanto dos deputados que me colocaram na vice-presidência.