Sem conseguir emplacar um nome da tropa de choque na relatoria da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), o Palácio do Planalto vê com reservas a escolha de Sergio Zveiter (PMDB-RJ), mas mantém o otimismo por um parecer para derrubar a acusação por corrupção passiva. Com receio do impacto de "fatos novos" na base parlamentar, a exemplo da prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, o governo tem pressa. Planeja engavetar o caso antes do recesso parlamentar, que se inicia em 18 de julho.
Apesar de ser filiado ao PMDB, Zveiter é visto como um nome mais ligado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado do Planalto, porém beneficiário direto de uma eventual saída de Temer. Jones Martins (PMDB-RS) era a opção preferida do governo, mas acabou preterido pelo presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), justamente pela fidelidade a Temer.
Nas primeiras manifestações, Zveiter garantiu ter "total" independência e evitou falar sobre o relatório, confeccionado a partir da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que liga a mala com R$ 500 mil da JBS ao presidente, e da defesa de Temer, que será entregue nesta quarta-feira (5) na CCJ pelo advogado Antônio Cláudio Mariz.
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– Não posso antecipar meu posicionamento. Não tenho esse problema de pressão, comigo não tem pressão – disse Zveiter.
O Planalto trabalha com a previsão de o deputado apresentar o relatório até a segunda-feira, tentando aprovar o parecer – caso seja contra a acusação – na quarta na CCJ. Assim, a votação em plenário poderia ocorrer entre quinta e sexta-feira, mais tardar no início da semana seguinte, entre os dias 17 e 19. Aliados de Temer, contudo, consideram os prazos apertados e admitem o risco de a análise em plenário ficar para agosto, depois do recesso parlamentar.
– Sou a favor de cancelar o recesso caso a denúncia não vá ao plenário na próxima semana. Não é o ideal deixar a economia parada por semanas – afirma Beto Mansur (PRB-SP).
A base do palácio terá de funcionar na CCJ para evitar que a oposição atrase o calendário. Segundo a deputada Maria do Rosário (PT-RS), a bancada petista tenta viabilizar a convocação de Janot e do empresário Joesley Batista. A defesa do presidente discorda.
Discurso é otimista, mas não há garantia de votos
Os governistas sustentam o discurso otimista, porém admitem nos bastidores que não há garantia dos votos necessários para salvar o presidente – 172 dos 513 deputados. Falta apoio, inclusive, na CCJ.
Escudeiros de Temer acreditam ter 27 dos 66 votos do colegiado, abaixo do exigido para aprovar um parecer de interesse do Planalto. A meta é elevar a soma a 40. O governo negocia a troca de titulares da comissão que estão indecisos ou abriram posição pró-denúncia. Outra estratégia é convencê-los a não aparecer na votação.
Desde segunda-feira, Temer promove ofensiva em cima dos indecisos e dos líderes partidários. Nesta terça (4), recebeu mais de 20 deputados. Os encontros devem se intensificar nos próximos dias.
O presidente costura sua sobrevivência por meio de oferta de cargos, emendas e repasses de recursos federais a municípios.