Após a manobra do governo para garantir a rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputados do PSOL farão um levantamento das emendas e cargos liberados pelo Palácio do Planalto nas últimas semanas. O objetivo é denunciar ao Ministério Público a suposta compra de votos de parlamentares que deram apoio ao presidente.
Ao todo, 14 titulares da CCJ foram obrigados a dar lugar a governistas, por determinação dos líderes partidários. Nesta sexta-feira (14), o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que há indícios de que Temer liberou verbas exclusivamente com a intenção de ter apoio de deputados.
– Nós vamos representar ao Ministério Público para que ele verifique a prática de corrupção ativa por parte do Executivo, e de corrupção passiva pelos parlamentares que tenham recebido estes montantes, muito acima da média, para votarem a favor do governo – afirmou o deputado.
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O placar que determinou a rejeição da denúncia na comissão foi de 40 votos a 25. Interlocutores do governo admitiram que a vitória só foi alcançada por causa das substituições de titulares.
Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta sexta, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que as trocas de deputados são "do jogo político do Congresso Nacional". Ele também argumentou que os políticos substituídos são de partidos que fecharam questão contra a denúncia.
– Como havia alguns que não tinham facilidade de assimilar essa orientação partidária, eles foram substituídos. Colocaram-se outros que tinham colocação garantida, porque iriam lá responder conforme a orientação do partido – alegou Padilha.
A medida não gerou revolta apenas na oposição. Relator da denúncia contra Temer, o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) também sustentou que o presidente liberou emendas parlamentares e distribuiu cargos para arquivar a denúncia.
– O senhor Michel Temer acha que pode usar o dinheiro público, bilhões de reais. Que pode submeter a Câmara dos Deputados, ao seu bel sabor, a proteger, a botar embaixo do tapete, a proibir que a sociedade saiba exatamente o que aconteceu – discursou Zveiter, na quinta-feira (13), na CCJ.
Diante das suspeitas, a bancada do PSOL na Câmara promete fazer um levantamento detalhado das medidas do Executivo. Segundo o deputado Alencar, os dados serão suficientes para demonstrar que Temer criou um "balcão de negócios" em torno da denúncia.
– Isso é uma prática rebaixada da politicagem mais rasteira, e com dinheiro público – finalizou.