Para tentar dar respostas ao agravamento da crise política, o presidente Michel Temer passou a consultar com mais frequência aliados que, antes, mesmo fazendo parte do governo, tinham menos "protagonismo". Temer tem feito, pelas manhãs, uma espécie de reunião de coordenação política com seus novos "conselheiros".
Fazem parte do grupo os ministros Torquato Jardim (Justiça), Raul Jungmann (Defesa) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional). Os três, juntamente com os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) – os mais próximos de Temer – têm ajudado a definir as estratégias e ações do Palácio do Planalto.
Leia mais
Temer monta estratégia política e jurídica para tentar resistir ao TSE
Saiba o que pode acontecer se o TSE decidir pela cassação de Temer
Veja quais são as 82 perguntas que a Polícia Federal fez a Michel Temer
De fora do governo, o presidente conta, diariamente, com a ajuda do criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, advogado e amigo. Mariz, que chegou a ser convidado para assumir cargo no governo, vem exercendo papel crucial nas estratégias de Temer e é responsável pela defesa no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o peemedebista.
Ao lado de Mariz, mas sem a mesma interlocução direta com o presidente, está o advogado Gustavo Guedes, escalado pelo Planalto para atribuir ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, uma tentativa de influenciar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Núcleo jurídico
A chegada de Torquato Jardim à Justiça reforçou o time de "advogados de Temer". Ainda nesse núcleo jurídico tem ganhado espaço no gabinete do presidente o subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, que despacha várias vezes por dia com Temer.
A formação de um novo "núcleo duro" coincide com baixas importantes do entorno de Temer. Após perder o então assessor José Yunes no fim do ano passado, citado em delação da Odebrecht, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), também ex-assessor do presidente, foi preso no sábado (3), implicado na delação da JBS. Tadeu Filippelli, alvo de operação que apura fraudes no estádio Mané Garrincha, foi exonerado do cargo no Planalto.
Em março, Loures já tinha deixado a assessoria especial de Temer para assumir a vaga de Osmar Serraglio (PMDB-PR) na Câmara, nomeado naquele momento para a Justiça, cargo que perdeu para Torquato. Loures, considerado homem de confiança de Temer, se apresentava no Congresso como os "olhos do presidente nas votações". Ele foi flagrado, em ação controlada da Polícia Federal sobre executivos da JBS, carregando uma mala de dinheiro.
Gabinete
O governo montou um "gabinete de crise" no 3º andar do Planalto. A nova estrutura começou a funcionar nas salas em que despachava justamente o quarteto de assessores do presidente que deixaram o governo – além de Yunes, Loures e Filippelli, Sandro Mabel.
A poucos metros do gabinete de Temer, as salas de "gestão da turbulência" passaram por uma pequena reforma no fim de semana e vão abrigar, inicialmente, a comunicação e o núcleo jurídico, podendo ser usadas também para reuniões com ministros mais políticos, como Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). A ideia é investir na estratégia da "pronta resposta", toda vez que o presidente for atacado.
"Analistas"
A ineficiência de Serraglio na Justiça fez com que o presidente recorresse a Jungmann e Etchegoyen, considerados "bons analistas". Etchegoyen, no fim de semana retrasado, foi convocado por Temer para duas reuniões no Jaburu. Jungmann foi escalado para responder aos atos realizados em Brasília contra o governo que terminaram em confronto entre policiais e manifestantes.
O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, chegou sob desconfiança, mas, agora, a avaliação é de que o tucano "é baiano silencioso, mas que tem entregado resultado".