Na tentativa de se defender da denúncia feita por Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer disse nesta terça-feira (27) que é alvo de "ilações" e partiu para o ataque contra o procurador-geral da República. Em sua argumentação, Temer citou o nome de Marcelo Miller, ex-procurador que deixou o Ministério Público Federal (MPF) para atuar em um escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência do grupo JBS.
– Um assessor muito próximo ao procurador-geral da República, senhor Marcelo Miller, homem de sua mais estrita confiança, um dia deixa o emprego do sonho de milhares de jovens brasileiros – afirmou Temer. – Abandona o Ministério Público para trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral. Ganhou milhões em poucos meses, o que levaria décadas para poupar – prosseguiu, ressaltando que não houve uma "quarentena".
Temer ainda insinuou que parte dos "milhões" pagos ao escritório de advocacia poderia ter ficado com Janot.
– Pelas novas leis da ilação, poderíamos concluir que, talvez, os milhões não fossem unicamente para o assessor de confiança que deixou a PGR – disse Temer.
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O jornal Folha de S.Paulo aponta que, desde o final de 2014, Miller era um dos principais auxiliares do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nas investigações dos desdobramentos da Operação Lava-Jato sobre autoridades com foro privilegiado. Ele participou de diversos acordos de delação premiada de réus e investigados, como os executivos da construtora Odebrecht.
No último dia 4 de março – três dias antes de o empresário Joesley Batista, da JBS, gravar o presidente Temer no Palácio do Jaburu –, Miller anunciou que estava deixando a PGR para ingressar no escritório Trench, Rossi & Watanabe Advogados.
A ida do ex-procurador ao escritório de advocacia gerou mal-estar no Ministério Público Federal durante a divulgação da delação premiada de Joesley Batista. Na ocasião, a PGR emitiu uma nota à imprensa em que afirmava que Marcelo Miller "não participou das negociações do acordo de colaboração premiada dos executivos do grupo J&F".
Segundo a Folha, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu em 26 de maio uma investigação interna – chamada oficialmente de Procedimento Preparatório (PP) – para esclarecer quais as funções exercidas por Marcelo Miller no escritório de advocacia. Em nota, a Procuradoria afirma que o procedimento "antecede a abertura de inquérito civil e tem o objetivo de reunir informações que podem justificar a continuidade ou o arquivamento da investigação".
"No âmbito do PP, já foram solicitadas informações acerca do ingresso de Marcelo Miller no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a holding J&F durante parte das negociações que levaram ao fechamento de acordo de leniência entre o grupo econômico e o MPF. Também foram pedidos esclarecimentos à seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, onde um procedimento interno apura o caso", diz a nota.
* Zero Hora, com agências