– O PSDB tem compromissos com o governo e com o programa de governo. E o PSDB não é Madame Bovary – declarou nesta sexta-feira o douto ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes. Uma declaração que leva, inevitavelmente, a pensar nas relações que o erudito chanceler faz entre a arte e a vida.
Madame Bovary, obra-prima do romance francês publicada em 1857, foi escolhida por Nunes para seu exemplo porque é uma das adúlteras mais famosas da literatura – e ao contrário da brasileira Capitu, de Machado de Assis, não há dúvida sobre suas escapadas para fugir da realidade burguesa anódina que vive ao lado do marido, o médico de província Charles Bovary.
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Mas fica uma questão crucial para alguém que leu o livro... Apesar de todo o moralismo da conclusão do livro, com uma Bovary endividada e na lama, o Charles Bovary criado por Flaubert é um banana, um sujeito dolorosamente sem graça, uma figura burguesa de tal modo enfadonha que seria de se pensar como Bovary poderia não traí-lo. Se o PSDB se compara a Bovary e diz que mesmo na dificuldade não vai trair Temer, poderia a comparação ser estendida à personalidade algo formal demais, para dizer o mínimo, do presidente?
*Zero Hora