O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) usou um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB) para pegar a mala estufada de propina da JBS. No dia 27 de abril, o homem da mala – da estrita confiança do presidente da República, Michel Temer – deslocou-se de Brasília para São Paulo, onde, no dia seguinte, recebeu 10 mil notas de R$ 50, somando R$ 500 mil em dinheiro da empresa. As informações constam no relatório da Operação Patmos, desdobramento da Operação Lava-Jato, que mira Loures e o presidente.
O voo partiu da capital federal às 19h. O homem da mala pegou carona com o ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Gilberto Kassab (PSD-SP), que consta nos registros da FAB como o requisitante da aeronave. Outros cinco passageiros teriam embarcado na companhia de Kassab e de Loures, mas a identidade dessas pessoas não aparece no documento da Força Aérea Brasileira.
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A aeronave pousou no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, às 20h55min, de 27 de abril. Loures estava sob monitoramento de ação controlada da PF, autorizada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os agentes o filmaram em diversos deslocamentos pela capital paulista. A cena crucial da investigação mostra o homem da mala saltitante pela Rua Pamplona, nos Jardins, carregando a propina que havia acabado de receber das mãos do executivo Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da J&F, controladora da JBS.
O monitoramento da PF flagrou Rocha Loures, ainda no dia 27, preocupado em não perder a viagem de ida. Mesmo com a possibilidade de embarcar no voo da FAB, Loures solicitou a Alessandra, apontada pelos investigadores como sua assessora na Câmara, que providenciasse a compra - com dinheiro público - de uma passagem comercial para São Paulo.
"Entende-se uma preocupação em embarcar em tal dia. Existe, inclusive, a menção a um jantar as 20h em São Paulo", destaca a PF. "No mesmo diálogo, Rocha Loures menciona manter o voo com Kassab."
A PF transcreveu o diálogo do homem da mala com Alessandra. Naquele instante, Loures aparentemente estava chegando ao Palácio do Planalto.
"Loures: a princípio, você diga pro ministro Kassab se não tiver uma outra, uma outra .. aqui a esquerda a gente vai pro palácio do planalto, vai pela frente, ééé
Alessandra: mantenha a reserva do senhor?
Loures: e mantem o voo lá com o Kassab uma hora.
Alessandra: tá
Loures: mas imediatamente veja se tem alguma outra opção porque o ideal pra mim era sair daqui seis da tarde.
Alessandra: tá, chega Iá a seis ne? Sair umas chegar Iá às seis ou sair às seis?Loures: ééé eu tenho um jantar, eu tenho um jantar às oito horas
Alessandra: tem, oito e meia
Loures: o ideal era chegar em São Paulo sete horas
Alessandra: tá eu já vou começar a ver aqui então
Loures: tá bem?"
Loures ainda pediu a Alessandra que providenciasse "volta no outro dia, ou seja, após o encontro com Ricardo Saud", indica a PF. A comprovação de que Loures usou, de fato, o jatinho da FAB para se deslocar a São Paulo, segundo a PF, é o grampo que o pegou às 18h43min daquele dia 27.
"Provavelmente, durante o embarque para São Paulo no dia 27 de abril 2017, às 18:43, Rocha Loures demonstra que embarcou em um voo da FAB com ministros. Na mesma conversa, após quatro minutos de diálogo, afirma ter conversado com o presidente Michel Temer 'ontem', dia 26 de abril de 2017 e 'hoje', dia 27 de abril de 2017", destaca a PF. "Verifica-se, nos registros de voos da FAB, que ocorreu um trecho com o Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações às 19h de Brasília para São Paulo, motivo 'serviço' e previsão de sete passageiros, pousando no destino às 20h55, condizente com o que o deputado narrou no ultimo dialogo apresentado."
Por meio de sua assessoria de imprensa, o ministro Kassab declarou que "na data mencionada, o ministro Kassab deslocou-se a São Paulo como mencionado, para cumprimento de agenda da pasta. É prática comum que parlamentares usem aeronaves da FAB para deslocamento, quando disponíveis, não havendo qualquer impedimento legal."