A Lava-Jato investiga o sumiço de livros de registros de ações e de transferências de ações do Hospital São Lucas, de Ribeirão Preto (SP), e a operação de venda do negócio. O diretor-presidente da unidade hospitalar é o médico Pedro Antônio Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci, candidato a delator.
As relações financeiras e societárias de Palocci – preso desde setembro de 2016 – com o irmão e o sobrinho André Palocci estão sob investigação em Curitiba desde 2015. O alvo central é o ex-ministro da Fazenda, acusado de gerenciar uma "conta corrente" que chegou a ter R$ 128 milhões em créditos – só da Odebrecht – em benefício do PT.
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O sumiço dos documentos, registrado no dia 9 de maio, porém, chamou ainda mais a atenção dos procuradores da Lava-Jato após a notícia, na semana passada, da venda do grupo São Lucas, do qual Pedro é o acionista majoritário.
As suspeitas são de que dinheiro do ex-ministro tenha circulado nos negócios do irmão e do sobrinho, André, filho de Pedro e sócio da Projeto Consultoria, empresa que Antonio Palocci abriu em 2006, após ser obrigado a deixar o governo.
Boletim
A Polícia Civil em Ribeirão Preto registrou um boletim de ocorrência em que o diretor corporativo do Hospital São Lucas, Elpídio José Mieldazis, declarava terem sumido livros "relacionados a registro das ações nominativas e transferências de ações nominativas", salientando que o hospital tem os registros eletrônicos da posição atual da propriedade dos acionistas e que irá regularizar tudo na Junta.
Pedro entrou em 1996 como sócio e foi fazendo aquisições até tornar-se majoritário. A grande ampliação de capital ocorreu em 2010, quando os 90 médicos majoritários da São Lucas Participações venderam suas cotas para Pedro – um negócio de cerca de R$ 4 milhões. A partir deste período, entre agosto de 2010 e julho de 2015, o relatório do Coaf aponta que ele movimentou R$ 28,21 milhões em sua conta – R$ 14 milhões de créditos e R$ 14,2 milhões de débitos.
Defesa
Procurado pela reportagem, Pedro Palocci afirmou que é sócio do hospital antes de seu irmão virar político e que não há irregularidades no sumiço dos registros.
"Os dados eletrônicos refletem fielmente todas as movimentações acionárias realizadas ao longo dos anos e refletida nos livros fisicamente arquivados. Sou acionista do hospital há mais de quarenta anos e diretor-presidente desde 1996, portanto há 21 anos, muito antes do início da trajetória política do meu irmão Antonio Palocci Filho, que não tem e nunca teve qualquer participação no Hospital São Lucas", afirmou.