O juiz Sergio Moro afirmou que as declarações do ex-ministro Antonio Palocci de que ele "teria muito a contribuir" com as investigações "soaram mais como uma ameaça", do que "propriamente como uma declaração sincera de que pretendia naquele momento colaborar com a Justiça".
Moro condenou, nesta segunda-feira (26), Palocci a 12 anos, 2 meses e 20 dias pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava-Jato.
"O condenado é um homem poderoso e com conexões com pessoas igualmente poderosas e pode influir, solto, indevidamente contra o regular termo da ação penal e a sua devida responsabilização", escreveu o juiz.
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"Aliás, suas declarações em audiência, de que seria inocente, mas que teria muito a contribuir com a Operação Lava Jato, só não o fazendo no momento pela 'sensibilidade da informação', soaram mais como uma ameaça para que terceiros o auxiliem indevidamente para a revogação da preventiva, do que propriamente como uma declaração sincera de que pretendia naquele momento colaborar com a Justiça", acrescentou o juiz.
Palocci está preso em Curitiba desde setembro de 2016, quando foi alvo da 35ª fase da Lava-Jato, a Operação Omertà. É a primeira condenação do petista no escândalo Petrobras.
Interrogado no dia 20 de abril, Palocci disse que estava disposto a colaborar.
– Fico à sua disposição hoje e em outros momentos, porque todos os nomes e situações que eu optei por não falar aqui, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição o dia que o sr. quiser. Se o sr. estiver com a agenda muito ocupada, a pessoa que o sr. determinar, eu imediatamente apresento todos esses fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser certamente do interesse da Lava-Jato.
O ex-ministro, que contratou um escritório de advocacia de Curitiba que faz acordos de delação, tem buscado o Ministério Público Federal para negociar um acordo – ainda sem sucesso.
"Antônio Palocci Filho deverá responder preso cautelarmente eventual fase recursal", decidiu Moro.
"A prática serial de crimes graves, com afetação da integridade de pleitos eleitorais no Brasil e no estrangeiro, coloca em risco a ordem pública e constitui elemento suficiente para justificar a manutenção da preventiva."