Preso em operação da Polícia Federal (PF) que investiga o desvio de recursos na construção da Arena das Dunas, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) é um dos políticos mais experientes do país. Com 11 mandatos consecutivos, o peemedebista foi eleito deputado federal em 1971, pelo MDB, e permaneceu na Casa até 2015, após perder a disputa ao governo do Rio Grande do Norte para Robinson Faria (PSD).
Henrique Alves é um dos principais aliados do presidente Michel Temer. Eles se aproximaram a partir de 2007, quando Alves passou a ocupar a liderança do PMDB na Câmara. Dois anos depois, Temer foi alçado à presidência da Casa, cargo em que permaneceu até dezembro de 2010. No ano seguinte, por exemplo, o então vice-presidente e a família escolheram o Rio Grande do Norte para descansar durante o feriadão de 7 de Setembro: refugiaram-se na casa de Henrique Alves, na praia de Graçandu.
– Essa amizade cresceu quando atuamos juntos na Câmara, no dia a dia daquela Casa – afirmou Alves em entrevista ao portal UOL.
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Na prática, a aliança com Temer permitiu a Henrique Alves obter trânsito na cúpula do governo. Mesmo após ficar sem mandato na Câmara, o político recebeu a chefia do Ministério do Turismo, em abril de 2015, após reunião entre Temer e a então presidente, Dilma Rousseff, que selou a indicação. Henrique Alves seguiu no cargo por pouco mais de 11 meses, quando deixou o Planalto em meio ao desembarque do PMDB do governo e à votação da admissibilidade do impeachment da petista na Câmara.
O afastamento de Dilma pelo Senado, em maio de 2016, fez com que Henrique Alves retornasse ao Turismo. No entanto, o político ficou na função por menos de 40 dias, quando se tornou alvo da delação do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Henrique Alves teria recebido R$ 1,55 milhão em propina, entre 2008 e 2014, por meio da subsidiária da Petrobras.
Segundo Machado, os valores teriam sido repassados pela Queiroz Galvão e pela Galvão Engenharia. Os recursos ilícitos seriam mascarados como doações oficiais.
44 anos na Câmara
Entre 1971, quando foi eleito pela primeira vez, e 2015, quando deixou a Câmara, Henrique Alves ocupou 44 dos 69 anos de vida como parlamentar. Ele é primo do senador e ex-ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).
Após eleger-se deputado federal pelo MDB em 1970, 1974 e 1978, Henrique Alves ingressou em 1980 no Partido Popular (PP), liderado por Tancredo Neves. Com a extinção da legenda, no ano seguinte, ele e os outros integrantes da sigla seguiram para o PMDB.
Novamente eleito em 1982, o peemedebista votou em Tancredo nas eleições indiretas de 1985. Depois, participou da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Carta Magna de 1988. Em 1992, votou a favor do impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
Henrique Alves foi reeleito pelo PMDB em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010. Ele ocupou a liderança do PMDB da Câmara entre 2007 e 2013, e a presidência da Casa de 2013 a 2015.
Alvo da prisão na Lava-Jato
Expedido pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte, o mandado de prisão contra Henrique Alves é um desdobramento das delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht. Ele é suspeito de ter recebido vantagens indevidas de empreiteiras envolvidas na construção da Arena das Dunas, em Natal.
Segundo a PF, houve superfaturamento de R$ 77 milhões na obras do estádio da Copa. A Operação Manus, deflagrada nesta terça-feira (6), investiga crimes de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro relacionados à construção da Arena das Dunas.