A viagem à Bahia em 2011 em um jatinho da JBS não foi a única vez que o presidente Michel Temer usou aeronave de empresa privada para seu deslocamento. Em 2014, o então vice-presidente foi a Tietê, no interior de São Paulo, em um helicóptero pertencente à Juquis Agropecuária Ltda. Temer estava na cidade em compromisso oficial, conforme registra a agenda da Vice-Presidência da República do dia 9 de março de 2014 (veja reprodução abaixo).
Procurado, o Palácio do Planalto disse inicialmente que Temer viajou em um helicóptero da FAB, o que contraria relatos de testemunhas e as próprias fotografias do então vice-presidente descendo da aeronave da Juquis. Após a publicação da reportagem, no entanto, o Palácio do Planalto corrigiu a informação e reconheceu que a viagem foi feita no helicóptero de um "amigo" de Temer, Vanderlei de Natale – sócio-administrador da Juquis. Ao mudar de versão, o Planalto justificou que, na resposta ao questionamento de ZH, houve confusão de datas durante a pesquisa à agenda oficial.
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Quando da divulgação da viagem de Temer à Bahia em 2011, a bordo de um avião da JBS, o Planalto também afirmou, em um primeiro momento, que o deslocamento havia sido feito em aeronave da FAB. No dia seguinte, porém, o governo admitiu que a viagem ocorreu no jatinho Learjet PR-JBS da empresa de Joesley Batista. Em nota oficial, a Secretaria de Comunicação Social informou que Temer "não sabia a quem pertencia a aeronave" e que não pagou pelo serviço.
A visita de Temer
Nove de março de 2014 era um domingo e o município de Tietê, terra natal do peemedebista, festejava 172 anos de emancipação. Temer chegou pela manhã, após um voo de cerca de 40 minutos desde São Paulo. Ele desembarcou do helicóptero Bell prefixo PR-VDN no aeroclube de Tietê, acompanhado de auxiliares e do amigo e futuro assessor José Yunes – que pediria demissão no final de 2016, após ser citado nas delações da Odebrecht por supostamente ter recebido R$ 1 milhão para campanhas do PMDB.
Quase ao mesmo tempo, chegou à cidade o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). O tucano, contudo, viajou em um helicóptero do governo do Estado. Na ocasião, também participou do evento o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que a convite de Temer se preparava para disputar pelo PMDB o governo de São Paulo.
A quatro meses do início da campanha eleitoral, Temer foi recepcionado com festa em Tietê. Recebeu homenagens da prefeitura e assistiu a uma apresentação da Orquestra Bachiana Filarmônica, regida pelo maestro João Carlos Martins.
– Talvez seja exagerado. Não faço nada mais do que faz qualquer cidadão brasileiro – discursou Temer.
Ao final do evento, Temer embarcou novamente no Bell PR-VDN cinza e seguiu de volta à capital paulista. De acordo com os registros da Força Aérea Brasileira, no mesmo 9 de março de 2014, pelo menos sete ministros e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal requisitaram aeronaves oficiais para viagens a serviço. Temer, contudo, preferiu o helicóptero da Juquis, empresa com sede em São Paulo.
Sócio de dona do helicóptero tem empresa alvo da Lava-Jato
Segundo registrado na Receita Federal, a principal atividade econômica da Juquis é o cultivo de cana-de-açúcar, soja, eucalipto e milho, além da criação de bovinos de corte e equinos. A agropecuária tem como sócio-administrador Vanderlei de Natale, empresário com atuação em diversos segmentos, como construção civil, energia, empreendimentos imobiliários e estacionamento. Uma das empresas que ele administra é a Construbase Engenharia, investigada na Lava-Jato.
A empreiteira é suspeita de ter participado de cartel para vencer a licitação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o Consórcio Novo Cenpes, integrado por Construbase, OAS, Carioca Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS, teria pago R$ 39 milhões em propina para obter o contrato com a Petrobras.
Alvo de mandado de prisão preventiva na Lava-Jato, o diretor da Construbase, Genésio Schiavinato Junior, se entregou à Polícia Federal em Curitiba em 4 de julho do ano passado, sendo libertado quatro dias depois. Ele foi denunciado pelo MPF por corrupção e lavagem de dinheiro. O contrato firmado pelo Consórcio Novo Cenpes com a Petrobras tinha previsão inicial de custo de R$ 850 milhões, mas uma série de aditivos levou o montante final a superar R$ 1 bilhão.
Na eleição de 2014, a Construbase doou oficialmente R$ 2,25 milhões a campanhas presidenciais. O PT recebeu R$ 500 mil. O R$ 1,75 milhão restante foi repassado ao PSDB. A doação rendeu ao partido um apontamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao analisar a prestação de contas da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB-MG), a Corte verificou que o candidato declarou ter recebido apenas R$ 500 mil, o que depois foi corrigido pelo tucano.
Curiosamente, entre as obras da Construbase está o prédio-sede da Justiça Federal em Curitiba, no qual despacha o juiz Sergio Moro.
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Contraponto
Zero Hora procurou o Palácio do Planalto, a Juquis Agropecuária e a Força Aérea Brasileira. Inicialmente, a assessoria do Palácio do Planalto informou que Temer viajou a Tietê em helicóptero da FAB. ZH perguntou o modelo e o prefixo do aparelho, mas o jornal foi orientado a buscar as informações com a FAB. Às 21h30min, após a publicação da reportagem, o Planalto reconheceu que Temer viajou no helicóptero do amigo Vanderlei de Natale, em 2014. Segundo a assessoria, o presidente utilizou helicóptero da FAB para ir até Tietê, mas em 2013. A equipe do Planalto disse que havia se confundido durante a pesquisa e na hora de responder ao questionamento de ZH.
A Juquis foi contatada por telefone quatro vezes, nas tardes de segunda e terça-feira. Um empregado que se identificou ora por "João", ora por "Jether", disse que não havia ninguém para comentar o uso do helicóptero, prometeu retorno e não fez mais contato com o jornal.
A Controladoria-Geral da União diz que eventuais situações de conflito de interesses que envolvam presidente e vice-presidente devem ser direcionadas à Comissão de Ética Pública (CEP). A CGU só atua nos casos que envolvam os demais ocupantes de cargo ou emprego público no Poder Executivo federal.