O jornalista Reinaldo Azevedo criticou a divulgação do áudio em que ele e Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), conversam sobre uma reportagem da revista Veja que tratava sobre o parlamentar tucano. A gravação teve o sigilo retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e foi divulgada, na terça-feira (23), pelo site BuzzFeed. Azevedo não é investigado.
Em entrevista ao programa Timeline Gaúcha, o jornalista sustentou que a divulgação do áudio "é ilegal" e contraria a Constituição, já que a gravação não contém nenhuma revelação sobre crimes ou irregularidades. Azevedo afirmou que é alvo de retaliação do procurador-geral da República por ter publicado que a filha de Rodrigo Janot, Letícia Ladeira Monteiro de Barros, atua como advogada das empreiteiras Odebrecht e OAS.
– Uma das irritações do senhor Rodrigo Janot comigo é porque eu conheço a Constituição melhor que ele – disparou. – Tentaram me criminalizar para me intimidar, mas não vão conseguir.
Em comunicado, no entanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que "não divulgou, não transcreveu, não utilizou como pedido, nem juntou o referido diálogo aos autos" da ação em que Andrea é investigada.
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Azevedo afirmou o relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, "não conhecia" o conteúdo do áudio da conversa entre ele e Andrea Neves porque "não leu" o material. Para o jornalista, a gravação deveria ter sido destruída.
– Quem é que tinha noção do teor das gravações? Por definição, os procuradores. Vou à Justiça e quero saber de onde partiu (a divulgação da gravação) porque um princípio constitucional está sendo violado – afirmou.
Após a retirada de sigilo do áudio, Reinaldo Azevedo pediu demissão da revista Veja. Ele defende que a divulgação do áudio seria ilegal se envolvesse qualquer cidadão, mas torna o caso "particularmente grave" por envolver um jornalista.
– Seja com PT, PSDB, PMDB, Lula, Temer: a todos assiste o Estado de Direito e cada um segundo aquilo que fizeram – defende. – É particularmente grave no caso do jornalista (a publicização do áudio) porque nós sabemos que o tempo todo estamos conversando com pessoas em busca de informações e nem sempre a gente está conversando com coroinhas de igreja.
A gravação entre o jornalista e a irmão de Aécio ocorreu em abril. Na conversa, Azevedo chama uma reportagem da Veja de "nojenta" e critica o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A conversa entre o jornalista e Andrea foi grampeada porque ela era um dos alvos da delação da JBS e estava sendo investigada pela PGR. No entanto, não foi identificado indício de crime no diálogo.
Leia a nota de esclarecimento da PGR:
"A Procuradoria-Geral da República esclarece que a informação veiculada na matéria do Buzzfeed “PGR anexa grampos de Reinaldo Azevedo com Andrea Neves em inquérito (...)” está errada. A PGR não anexou, não divulgou, não transcreveu, não utilizou como fundamento de nenhum pedido, nem juntou o referido diálogo aos autos da Ação Cautelar 4316, na qual Andrea Neves figura como investigada.
Todas as conversas utilizadas pela PGR em suas petições constam tão somente dos relatórios produzidos pela Polícia Federal, que destaca os diálogos que podem ser relevantes para o fato investigado. Neste caso específico, não foi apontada a referida conversa.
A ação cautelar contém quatro mídias. As duas primeiras referem-se aos termos de confidencialidade firmados com os colaboradores (folhas 55 e 57), anexados com a inicial da cautelar. As outras duas, diretamente juntadas pela PF, referem-se aos relatórios (autos circunstanciados) parciais de análise das interceptações telefônicas autorizadas pelo ministro-relator (folha 249, anexada dia 24/04, e folha 386, anexada dia 19/05).
A Ação Cautelar 4316 ainda não deu a primeira entrada na PGR, tendo sido aberta vista pelo ministro Edson Fachin apenas nesta terça-feira, 23 de maio, com chegada prevista para quarta-feira, 24 de maio."