O presidente Michel Temer orientou a equipe a "partir para o enfrentamento", na tentativa de mostrar que não está acuado com as delações feitas pela JBS nem com o inquérito autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigá-lo. Nas conversas desta quinta-feira (18) em seu gabinete, no Palácio do Planalto, ele pediu "resistência" aos partidos da base aliada, do PSDB ao PP, e cobrou apoio à agenda das reformas.
Temer chegou a ser aconselhado a renunciar por pelo menos dois assessores de sua extrema confiança e reagiu com nervosismo.
– Não sou homem de cair de joelhos. Caio de pé – afirmou.
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– Michel, você está passando pelo que eu passei. A diferença é que eu era senador e podia responder e você é presidente e não pode falar tudo o que pensa – disse-lhe mais tarde o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Presidente do PMDB, Jucá deixou o Ministério do Planejamento em maio do ano passado, após 12 dias no cargo, quando vieram à tona gravações em que ele dizia ser preciso impedir a "sangria" da Lava-Jato.
A portas fechadas, Temer usou termos como "conspiração" e "ação orquestrada" para se referir ao vazamento das delações do empresário Joesley Batista e de ex-executivos da JBS. O governo responsabilizou a Procuradoria-Geral da República pela divulgação dos depoimentos. Irritado, Temer disse que toda vez que a economia dá sinais de recuperação, aparece delação.
Temer telefonou logo cedo para a presidente do STF, Cármen Lúcia, avisando-lhe de que pediria acesso aos áudios. A conversa entre os dois foi protocolar. Ao longo do dia, o presidente recebeu 14 dos 28 ministros e lamentou o destino do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).
– Sem o PSDB, o governo acaba – disse um ministro à reportagem.
Discurso
Foi a equipe de comunicação que estipulou 16h de quinta como horário-limite do pronunciamento, porque pipocavam notícias sobre uma possível renúncia e o mercado estava agitado.
– Não poderíamos deixar essa onda crescer – disse Jucá.
O discurso passou pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral, Moreira Franco, mas na última hora Temer fez retoques, reforçando o tom de indignação. Questionado se haveria clima para aprovar mudanças na Previdência e na lei trabalhista, Jucá disse que o governo votará as "reformas possíveis". Apesar da tensão, um aliado não perdeu o bom humor e disse que era "mais fácil cair o Trump do que o Michel".
*Estadão Conteúdo