A convocação das Forças Armadas pelo presidente Michel Temer (PMDB) durou menos de 24 horas, mas foi tempo suficiente para gerar polêmica e agravar a situação do governo. Na manhã desta quinta-feira (25), Temer publicou decreto, em edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU), que revogou a ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Distrito Federal.
Cientistas políticos consultados por ZH discordam sobre a atitude de Temer, que autorizou a atuação das Forças Armadas para garantir a segurança e proteger prédios públicos, após os protestos de quarta-feira (24), em Brasília. No entanto, são unânimes ao afirmar que, com o gesto, o governo Temer ficou ainda mais exposto à tempestade política.
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Professor emérito do Instituto de Ciências Política da Universidade de Brasília (UnB), David Verge Fleischer lembrou que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também recorreu aos militares durante a onda de protestos em 2013. Prevista na Constituição Federal, a ação de Garantia da Lei e da Ordem também foi evocada durante a crise de segurança no Espírito Santo e Rio Grande do Norte, no início deste ano.
O erro de Temer, segundo Fleischer, foi ter demorado para agir. Para o cientista político, o decreto acabou sendo encarado como autoritário diante das "circunstâncias de fraqueza do presidente e sua iminente saída".
– O problema ontem foi a falta de planejamento e de inteligência da polícia de Brasília, de não prever que não iria dar conta dos black blocks. O Exército deveria ter sido mobilizado cedo para proteger os ministérios. Quando convocou, no final da tarde de ontem, a destruição já estava feita e o pessoal já estava indo embora – avaliou Fleischer.
No entendimento do cientista político Bruno Lima Rocha, o presidente Michel Temer "passou do limite" e flertou com o autoritarismo. Segundo o professor de relações internacionais da Unisinos, o episódio foi uma "demonstração de força e uma exposição das Forças Armadas desnecessárias".
– Há legalidade no ato, mas o governo tem legitimidade muito frágil e é alvo de investigação federal. A soma dos fatores nos leva a entender que o presidente caiu na tentação autoritária. Por um momento, por um suspiro. Foi menos de 24 horas, mas ele abriu precedente e isso é algo seriíssimo. Porque hoje, no Brasil, de 2013 para cá, os conflitos em atos públicos vem aumentando e o nível repressivo também.
Sobre a revogação do decreto, Fleischer entende que Temer agiu corretamente, pois a "ameaça à lei e à ordem acabou". Já Lima Rocha interpreta que Temer e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, "viraram o fio, botaram o pé além do limite e recuaram" diante das reações.