Principal nome do PMDB no Paraná e crítico do presidente Michel Temer, o senador Roberto Requião aconselha o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB), filmado ao receber uma mala com R$ 500 mil da JBS, a delatar. Chamado de "homem da mala" em Brasília, Loures foi chefe de gabinete no início da última gestão de Requião como governador do Estado (2003-2010). Em entrevista a Zero Hora, o senador classifica como "surpresa espantosa" o flagra do antigo subordinado e condena as sondagens do Planalto para emplacar outro deputado do PMDB-PR na Esplanada e segurar o foro de Loures, após a demissão de Osmar Serraglio na Justiça. Confira os principais trechos.
Como o senhor avalia a saída de Osmar Serraglio do Ministério da Justiça?Serraglio não devia ter sido ministro. Ele se transformou em um ministro da Justiça invisível, foi demitido, e propuseram que ele virasse o ministro transparente. Ele se recusou e voltou a ser um deputado opaco, como sempre foi.
Foi acertada a decisão de recusar a vaga na Transparência?
Serraglio fez mal no impeachment de Dilma, na aliança com Eduardo Cunha, está em um desvio de comportamento. Deu no que deu, voltou à opacidade parlamentar na Câmara.
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Qual a sua opinião sobre um outro deputado do PMDB do Paraná virar ministro para garantir foro privilegiado a Rodrigo Rocha Loures?
Os três deputados não aceitaram a hipótese, nenhum se submeteu a essa patifaria. Não fui consultado, mas soube que não aceitaram.
O flagra do ex-deputado Rocha Loures aceitando mala com R$ 500 mil lhe surpreendeu?
Rocha Loures foi meu chefe de gabinete no meu primeiro governo (2003-2006). Ele era recém-egresso da Fundação Getulio Vargas, foi meu amigo, jamais teve comportamento fora dos trilhos. Foi uma surpresa espantosa saber que ele era o portador de um pixuleco de R$ 500 mil da JBS. A história dele e da família nunca teve esse tipo de comportamento.
Conversou com ele depois da operação da Polícia Federal?
Não converso com o Rocha Loures desde que ele foi trabalhar com Temer. Não rompemos, só perdi o interesse nele. Lá no Planalto não é minha praia.
Rocha Loures vai delatar ou apostar em uma defesa técnica?
Ele está recém-casado com uma senhora, amiga nossa, grávida de oito meses. Se ele me pedisse um conselho, diria para falar tudo o que sabe a respeito do governo.
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O PMDB sofrerá desgaste no Paraná em razão de Rocha Loures e Serraglio?
O partido no Estado tem outro comportamento e outra imagem, não participamos do governo federal e estadual. Não tem nada a ver com essa agressão ao trabalho e essa extinção da Previdência que querem fazer.
O senhor faz oposição a Michel Temer, mas o PMDB-PR na Câmara apoiou o impeachment e tem espaço no governo. A bancada é governista?
Os deputados votaram até agora na contramão daquilo que o partido pensa no Paraná, porque no Estado somos o velho MDB. Agora, a bancada já reagiu diferente em relação a essa questão dos ministérios, que foram oferecidos como pipoca.
Temer encerra o mandato?
Michel Temer merece o devido processo legal e o direito de defesa, só isso. Ele não merece a minha solidariedade.
O senhor acredita em renúncia, impeachment ou cassação pelo TSE?
É rigorosamente impossível governar na situação atual. Temer tem mais dificuldade do que a Dilma tinha. Ele só está sendo mantido em razão das reformas, que são impostas de fora para dentro, em um projeto de globalização e de fim do Brasil soberano, de fim do projeto nacional.
Eleições diretas ou indiretas caso Temer saia?
Diretas. Não há condição moral de o Congresso votar depois das últimas denúncias de financiamento de campanha, de caixa 2.
Por que Renan Calheiros (PMDB-AL) foi mantido na liderança do PMDB no Senado?
Foi uma tentativa do governo de destituir o Renan, que não funcionou. Fui o último a assinar a indicação do Renan à liderança da bancada, mas não assinaria a sua destituição no momento em que ele está tomando algumas atitudes corretas, exigindo um debate sobre essas reformas criminosas das leis do trabalho e da Previdência.