A delação premiada entre o grupo exportador de carne JBS e a Justiça Federal não se limita a depoimentos dos empresários e gerentes. Os delatores entregaram também documentos, entre os quais planilhas que demonstram pagamentos efetivados a políticos de 28 partidos. Um dos interrogatórios mais detalhados (vídeos abaixo) foi o de Demilton Antônio de Castro, executivo da empresa, que atuava como diretor-financeiro. Ele informou que desde 2007 foram feitos mais de 9 mil pagamentos a parlamentares, governadores e dirigentes partidários e apresentou a relação das entregas de dinheiro, em espécie ou via depósito bancário.Demilton disse que atuava com doleiros – dois deles uruguaios e um terceiro, brasileiro. Em Montevidéu a JBS trabalhava com os operadores de câmbio Paco e Raul. Já em São Paulo a operação era feita com um sócio deles, conhecido como Davi.
Paco e Raul recebiam encomendas da JBS. Quando a empresa desejava pagar algum político, de forma clandestina, sacava dólares de duas offshore (empresas de fantasia no Exterior), chamadas Lansville e Valdar, situadas na Cidade do Panamá. De lá a verba era repassada para contas de "laranjas" associados aos doleiros uruguaios.
Os doleiros recebiam uma comissão de até 15% sobre o negócio a ser feito e então acionavam seu colega paulista, Davi, que providenciava a entrega de dinheiro (em reais) aos políticos aliciados pela JBS. Os repasses eram feitos em sacolas ou, então, via falsos contratos de serviços, jamais prestados, por empresas-fantasmas que simulavam doações aos políticos.
Nessa triangulação, os doleiros falavam com Demilton por meio de VPN, uma rede virtual privada de diferentes dispositivos via internet. Em mensagem, eles usavam códigos: Raul era 100, Paco era 101.A direção da JBS confirmou que, apenas em 2014, financiou 1.829 candidatos de 28 partidos. Desses, 179 se elegeram deputados estaduais e 167 deputados federais. Só naquele ano foram doados pela empresa mais de R$ 300 milhões (parte oficial, parte caixa 2 e parte prestação de serviços não realizados, com notas frias), disse Joesley Batista, o JB da JBS.