O ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (PMDB) acaba de se lançar pré-candidato à Presidência da República, mas terá de lidar com um problema de imagem. Delatores da Odebrecht afirmaram, perante a Procuradoria Geral da República (PGR), que ele recebeu R$ 100 mil não declarados à Justiça Eleitoral. O ato configura caixa 2 (crime eleitoral), no entender dos procuradores da República.
O relator da Operação Lava-Jato no STF, ministro Edson Fachin, remeteu o caso para a Justiça Federal de primeira instância, que decidirá se há indícios de crime eleitoral ou de corrupção.
A doação não-oficializada a Rigotto é mencionada pelos colaboradores Alexandrino Alencar e Pedro Novis, ex-dirigentes da Odebrecht. Eles dizem que Rigotto, quando era deputado federal, "se mostrou bastante receptivo às conversas com representantes do Grupo Odebrecht, pois naquela época estavam sendo negociados investimentos para a duplicação do Pólo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul", conforme ressaltou Novis.
Rigotto recebeu doações oficiais da Braskem (subsidiária da Odebrecht que controla o Polo Petroquímico de Triunfo) em 2002 (quando se elegeu governador do RS) e em 2006 (quando foi derrotado na tentativa de reeleição). Nesse último ano a doação, registrada na Justiça Eleitoral, foi de R$ 100 mil.
Já em 2010, a empreiteira Odebrecht realizou repasse de R$ 100 mil para a campanha de Rigotto ao Senado Federal. Ele não se elegeu. O valor está registrado no sistema "Drousys" (contabilidade secreta mantida pela Odebrecht em computadores na Suíça), mas não foi informado à Justiça Eleitoral, diz o delator Alexandrino. O codinome de Rigotto, na Odebrecht, era "Desesperado".
"De agosto de 2009 a junho de 2012 a Braskem pagou R$ 2,2 milhões à GR Consultoria e Participações Ltda (de propriedade de Germano Rigotto), a título de consultoria", informou Alexandrino.
A relação de Rigotto com a Odebrecht é antiga. Em 2003, ano em que ele foi empossado governador, ele beneficiou a Braskem com a política de redução de alíquotas de ICMS no Pólo Petroquímico, controlado pela empresa. Em protocolo firmado em junho daquele ano com o presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, o recém-eleito governador garantiu incentivos do Fundopem, como a compensação do investimento com os créditos do novo ICMS. O convênio foi renovado, após promessa da Braskem de investir mais de R$ 600 milhões. Por meio do convênio, a Braskem ficou com um crédito de R$ 300 milhões em ICMS.
Na gestão de Rigotto como governador a Odebrecht também tocou obras de prolongamento dos molhes do porto de Rio Grande, entre outras.
CONTRAPONTO
O que diz Germano Rigotto:
"Não fui comunicado, não sei de nada. Se foram feitas doações (pela Odebrecht), foram legais. Dentro do meu período de governo, nunca defendi nenhum interesse de Odebrecht. Quero ver quem citou, quando citou e como citou. Estou muito tranquilo. Prestei consultoria tributária à Braskem, mas não chegou aos valores mencionados".